A aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para que a Philip Morris Brasil assuma ativos e contratos com produtores da Alliance One e Universal Leaf Tabacos está fazendo a multinacional agilizar a operacionalização do negócio. O processo que começou por Paraná e Santa Catarina agora está sendo executado no Vale do Rio Pardo, onde ficam os municípios que mais produzem tabaco no Brasil. Os agricultores já estão recebendo acompanhamento técnico de ex-funcionários das fumageiras que agora integram a equipe de orientadores da Philip Morris.
A Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra) acompanha o processo à distância e assegura que a migração de agricultores antes ligados à Alliance e à Universal está ocorrendo de forma tranquila. Orientadores ouvidos pela Gazeta revelam que o trabalho de acompanhamento das lavouras na região pela Philip Morris começou ainda no mês passado. A definição dos produtores que teriam seus contratos repassados para a cigarreira se deu de acordo com a região de cada orientador.
Anunciado no fim de junho, o acordo da Philip Morris com as duas gigantes do beneficiamento de tabaco prevê que a empresa assuma 17 mil contratos de plantio e um conjunto de ativos – incluindo imóveis, carros e equipamentos. O negócio, cujo valor é mantido em segredo, virou símbolo da tendência de verticalização do setor. Até a chegada do grupo JTI ao Brasil – os japoneses compraram duas fumageiras de Santa Cruz no ano passado –, apenas a Souza Cruz fazia desde a produção da semente até a embalagem do cigarro. A partir desta safra a Philip Morris também será responsável por todo o processo de parte de seu volume total de produção.
Há dois anos, em uma transação bilionária, o Altria Grup, controlador da Philip Morris, já havia comprado a UST, dona da Profigen do Brasil. Fundada em Santa Cruz no começo de 1996 a empresa é uma das principais produtoras de sementes de tabaco do mundo. Agora a Philip Morris está começando a cuidar também da produção do tabaco.
O acordo com a Alliance e a Universal fará com que a cigarreira produza em torno de 33 mil toneladas por ano, o equivalente a 25% de sua demanda. Os outros 75% continuarão sendo comprados principalmente das duas fumageiras. Na safra passada as 186 mil famílias produtoras de tabaco colheram, nos três Estados do Sul, 739 mil toneladas, o que gerou uma receita de R$ 4,4 bilhões. A Philip Morris será responsável por aproximadamente 4,5% da produção total do Sul do Brasil.
Saiba mais
A decisão do Cade saiu no fim do mês passado, mas ainda não foi publicada no Diário Oficial da União. O órgão seguiu os pareceres da Secretaria de Acompanhamento Econômico (Seae) e da Secretaria de Direito Econômico (SDE). O entendimento é de que o acordo não comprometerá a concorrência no setor de beneficiamento de tabaco. “Não há, em decorrência da operação, possibilidade de fechamento do mercado”, assinalou a Seae. O Ministério Público Federal também se posicionou a favor do negócio.
A Philip Morris ainda não se manifestou após a aprovação do Cade. Não se sabe, por exemplo, quais prédios estão incluídos no negócio e como se dará a entrega do tabaco produzido pelos 17 mil fumicultores agora integrados à empresa. As entidades ligadas ao produtor acreditam que a aproximação com o fabricante de cigarro pode ser positiva na negociação do preço do tabaco.
(Gazeta do Sul, 14/09/2010)