Quase 15 anos depois de a primeira semente transgênica chegar ao mercado global, o outro lado da moeda começa a aparecer nos países pioneiros na adoção da biotecnologia. Estados Unidos e Argentina já apresentam uma série de casos em que as ervas daninhas passaram a apresentar, assim como a semente de soja geneticamente modificada, tolerância ao glifosato.
No Brasil, casos de resistência ao herbicida mais utilizado no mundo já foram identificados no Rio Grande do Sul. Por enquanto, o problema segue restrito às lavouras gaúchas, mas diante da rápida adoção da tecnologia transgênica no país, que já representa 75% da soja plantada, a expectativa é que pragas resistentes ao glifosato passem a ser encontradas em outras regiões.
"A tecnologia Roundup Ready foi importante, mas as plantas daninhas criaram resistência. A solução para isso será criar sementes resistentes a vários herbicidas, como estamos fazendo com o Dicamba", afirma Robert Fraley, vice-presidente executivo mundial da Monsanto e chefe do departamento de tecnologia da empresa, admitindo que, mesmo que indiretamente, a tecnologia dos transgênicos tem suas limitações. Dicamba é o nome comercial de um herbicida da Basf que tem como princípio ativo o glufosinato de amônio, produto concorrente ao glifosato - e, portanto, ao Roundup da Monsanto.
Nesse cenário, a multinacional americana prepara-se para lançar um pacote tecnológico para uma soja que seja resistente aos dois tipos de herbicida - Dicamba e Roundup. "Dessa forma, o produtor pode utilizar qualquer um dos herbicidas, controlando assim as plantas indesejadas", afirma Fraley.
Na prática, o agricultor poderá utilizar qualquer um dos dois produtos para aplicar sobre a soja, sem prejudicá-la. Com isso, a erva que for resistente ao glifosato será destruída pelo glufosinato e vice-versa. "A decisão de escolha será do agricultor", afirma.
A solução para os problemas de resistência ao glifosato ainda levará alguns anos para chegar ao mercado. A tecnologia está atravessando o processo regulatório nos Estados Unidos e tende a ser liberada próxima ao prazo de expiração da patente soja Roundup Ready, em 2014.
O fim da patente não é encarado pela empresa como algo preocupante. Além da soja que "corrige" um problema gerado pela sua primeira tecnologia, a Monsanto tem na manga uma série de lançamentos - e, consequentemente, de novas patentes -, para disputar o crescente mercado de sementes de soja geneticamente modificadas.
No aspecto agronômico, a multinacional desenvolveu especificamente para o Brasil uma variedade de soja que será resistente ao glifosato e também às lagartas. O produto já foi aprovado pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) e deverá chegar ao mercado em 2012.
"Para o Brasil, vemos possibilidades também na área de melhor aproveitamento de nutrientes, além de variedades que permitam ganhos de produtividade", afirma Ernie Sanders, diretor de projetos para a América Latina da Monsanto. "Sem contar pesquisas com nematóides, ferrugem e seca que estão sendo feitas mas que são para longo prazo", afirma o executivo.
Outros dois setores que estão no foco da empresa no curto prazo são os de nutrição de alimentos e ganhos de produtividade. Nesse sentido, em dois anos chega ao mercado americano uma soja com teor de ômega 3 para ser utilizado pela indústria de alimentos, além de variedades que possuem até cinco grãos por vagem, elevando a produtividade das lavouras.
(Por Alexandre Inacio, Valor Econômico, IHU-Unisinos, 13/09/2010)