A crise econômica, que afetou fortemente as nações desenvolvidas em 2009, fez o Brasil subir posições no ranking mundial de produção de papel - apesar da queda de 0,4% na produção frente a 2008, o País manteve o patamar de 9,4 milhões de toneladas. Isso foi suficiente para que o Brasil superasse Itália e França, subindo da 11.ª para a 9.ª posição, segundo levantamento da consultoria internacional Risi.
A crise também mudou a liderança do ranking: a China assumiu a 1.ª posição, deixando os Estados Unidos para trás. No ano passado, a produção chinesa teve alta de 8,3%, para 86,4 milhões de toneladas, enquanto a americana caiu mais de 10%, para 71,6 milhões. Entre as 15 primeiras classificadas, além da China, somente Indonésia e Índia aumentaram a produção de papel em 2009.
De acordo com a presidente da Associação Brasileira de Papel e Celulose (Bracelpa), Elizabeth de Carvalhaes, a crise teve consequências profundas para o mercado europeu, o que levou à redução da oferta no continente. Ela explica que o Brasil não sofreu tanto porque exporta pouco papel para nações desenvolvidas - a maior parte das vendas se concentra na América Latina. "Ao contrário do que acontece com a celulose, o mercado para o papel brasileiro está concentrado nas economias emergentes."
Para Patrícia Perez, economista da Risi, as posições conquistadas pelo País estão ligadas à severa retração de mercados "maduros" - Canadá e Finlândia, por exemplo, tiveram recuo da ordem de 19% na fabricação de papel. A economista diz, entretanto, que a perspectiva é positiva para o mercado latino-americano, especialmente para o papel-cartão, usado em embalagens, que lucra com o ganho do poder aquisitivo do consumidor.
2010. Conforme dados da Bracelpa, a melhora geral da economia já se reflete em um mercado de papel mais aquecido em 2010. Entre janeiro e julho, a alta na produção nacional foi de 6,5%, em relação ao mesmo período do ano passado. As empresas também sentem a retomada: de acordo com Edgar Avezum, diretor comercial da área de papel-cartão da Klabin, a empresa registrou expansão de 50% em suas vendas até julho, na comparação com 2009. A companhia deve atingir sua capacidade nominal de 680 mil toneladas de papel-cartão ainda em 2010.
A Klabin passou a concentrar uma maior fatia de papel-cartão que produz no mercado interno, para fazer frente ao crescimento econômico. No primeiro semestre de 2009, 50% da produção foi exportada. Neste ano, diz Avezum, a proporção caiu para 30%.
(Por Fernando Scheller, O Estado de S.Paulo, 10/09/2010)