A estação seca em boa parte da Amazônia preocupa moradores de algumas cidades e desperta a atenção de pesquisadores, que avaliam o quadro climático na região para saber se o reflexo da estiagem pode ser mais grave do que o registrado em 2005, quando uma grande seca atingiu o bioma.
Para Sérgio Bringel, pesquisador de Recursos Hídricos do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), "tudo indica que a seca deste ano pode ser maior que a de 2005". Ele lembra que uma forte seca atinge a selva amazônica no Peru, onde o nível do Rio Amazonas chegou a ameaçar o transporte e o abastecimento de água potável.
Chamado de Solimões ao entrar no Brasil, o mesmo rio também já não chega com força total em municípios do Amazonas. Por conta da seca no Solimões e em seus afluentes Purus e Juruá, quatro cidades no interior do estado ficaram isoladas e a Defesa Civil emitiu estado de alerta para 25 municípios.
"Existe a possibilidade de a Bacia Amazônica reagir com chuvas. Mas se a região não receber águas do Planalto Central e nem das Guianas, é evidente que teremos uma seca considerável", explica Bringel.
Segundo Marco Antônio Oliveira, superintende do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), o nível de água do Solimões próximo a Tabatinga, na região de fronteira, está bem abaixo do que o comum para o período. "O nível deve continuar descendo até meados de outubro. Em 2005, a vazante foi grande em todas as grandes bacias amazônica, mas este ano o Rio Negro está com nível bem alto. Acredito que o fato é conjuntural na bacia do Solimões", diz ele.
O CPRM deve mandar uma equipe até a região nesta sexta-feira (10) para verificar a marcação da régua instalada no rio, cuja última medição, de 3 de setembro, indicava que faltavam 76 cm para atingir o nível mínimo já registrado, em 2005. A medição é feita desde 1971.
"A preocupação é com a permanência dos níveis baixos", diz Oliveira. "Se a situação continuar crítica no Purus e no Juruá, por exemplo, comunidades ribeirinhas poderão ter dificuldade de abastecimento de água potável."
De acordo com Ricardo Dallarosa, chefe da divisão de meteorologia do Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), o nível de chuvas na região apresentou diversas "anomalias" desde o início do ano. "Tivemos muitas áreas com chuvas abaixo do esperado desde janeiro. Em agosto, as anomalias foram importantes por estarmos em uma estação seca na porção abaixo da linha do Equador. Não choveu quase nada na estação, o que é de certa forma preocupante", diz ele.
O quadro de falta de chuvas ocorreu principalmente no Amazonas e em boa parte de Mato Grosso, além da região oeste do Acre, segundo Dallarosa. "Isso vai se prolongar até o início de outubro, quando começa a transição para a estação chuvosa. Existe a tendência de retorno das chuvas, mas ela não é imediata", diz. De acordo com ele, novas chuvas no Alto Solimões podem não ser suficientes para recuperar a falta delas em meses anteriores.
Dallarosa explica que a situação da seca em 2010 é pior do que o registrado em 2008 e 2009, mas não deve ser tão grave como o registrado em 2005. "As chuvas na região estão muito moduladas pela condição oceânica. Em 2005, os Estados Unidos tiveram sua pior temporada de furacões, um dos principais fatores para a seca na região. Esse ano, o registro de furacões não chega perto do que ocorreu em 2005", explica ele.
(Por Lucas Frasão, Globo Amazônia, 10/09/2010)