O que veio antes, o lixo jogado nas ruas sem qualquer cuidado ou o recolhimento organizado? Provavelmente a primeira atitude. Afinal, Porto Alegre está na liderança quando se sabe que os brasileiros produzem 55 milhões de toneladas de lixo por ano. Porto Alegre lidera entre os 5.564 municípios, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Calculando-se 190 milhões de habitantes, a produção diária de lixo é de 160 mil toneladas diariamente, com uma média de 0,8 kg por cada brasileiro. As latinhas de alumínio são o material mais reciclado do País. Do total produzido no Brasil, o índice de reciclagem deste tipo de produto supera os 90% há cinco anos. O Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) recolhe 100 toneladas diárias na coleta seletiva de lixo na Capital. Esse material é distribuído nas 16 unidades onde fazem a separação cerca de 700 pessoas.
Elas, assim, conseguem uma renda média mensal de um salário-mínimo, hoje de R$ 510,00. É que a reciclagem do Brasil não é baseada em coleta seletiva e sim no trabalho de catadores. Os resíduos orgânicos são levados para a estação de transbordo localizada na Lomba do Pinheiro e, depois, para o aterro sanitário em Minas do Leão, localizado a 113 km da Capital, custando R$ 115,00 por tonelada. Dessa forma, é de entusiasmar quando a prefeitura anuncia que, a partir de 2011, haverá a conteinerização do lixo na cidade. Haverá um projeto-piloto na região central da cidade. Para o prefeito José Fortunati, existe uma santa utopia no planejamento, a de que não serão mais vistos sacos jogados na rua, pois sujeira é questão de saúde pública. A utopia fica por conta do fato de que, atualmente, a parcela dos que separam o lixo reciclável do orgânico é muito pequena. Nos edifícios ainda funciona bem, mas não em todos. Depois, quem levará as sacolas – quase todas de plástico, aproveitando as compras nos supermercados – até os contêineres?
Sem o engajamento das pessoas, nenhuma política pública de recolhimento de lixo dará certo. Assim é que muitos se preocupam com a realização da Copa em Porto Alegre, uma vez que não bastam obras. A cultura da população em relação ao evento e à cidade é fundamental. Não quebrar paradas de ônibus, não pichar paredes, não sujar, não destruir o mobiliário urbano, quem conseguirá essa atitude, se hoje o que vemos é uma Porto Alegre que dá pena em seu visual, seja no Centro Histórico ou nos bairros? O maior desafio é o engajamento da sociedade na coleta seletiva. Fazer mais campanhas educativas nas escolas, com motivação e conscientização da população. Reciclagem, além de fazer bem ao meio ambiente, ajuda na geração de renda com trabalho para milhares de famílias nos galpões de reciclagem, lembrou o prefeito José Fortunati. E, como sempre, leis é que não faltam nesse País, pois temos a Lei Nacional dos Resíduos Sólidos que responsabiliza as empresas, desonerando o poder público. Como Porto Alegre é pioneira em coleta seletiva, vamos rogar aos céus para que a conteinerização na coleta do lixo, seletiva ou não, seja uma medida que “pegue” na Capital e não uma utopia. Como todas as utopias, bem-intencionada. Mas uma utopia.
(JC-RS, 09/09/2010)