Percorrendo o campus da Green School, uma escola internacional situada em Sibang Kaja na ilha de Bali, na Indonésia, tem-se a impressão de se estar em um reduto de náufragos. No meio de uma natureza exuberante, as construções são feitas de bambu, tijolo e argila, os caminhos são marcados por pedrinhas, os móveis são esculpidos em madeira e velas de barcos fazem as vezes de janelas nas salas de aula. Também há arrozais, algumas colmeias, búfalos atrás de plantações de mandioca ou ainda de tomates, pepinos, palmeiras açucareiras e cacaueiros.
Nesse estabelecimento escolar ecológico, você é recebido com um copo de água fresca, tirada diretamente do poço. “Não queremos ser dependentes de nada”, conta John Hardy, um ex-joalheiro canadense, fundador dessa escola-piloto inaugurada no segundo semestre de 2008. “Bebemos nossa água, servimos nossas colheitas na cantina, produzimos nossa eletricidade e construímos segundo os princípios do desenvolvimento sustentável”. Reportagem de Arnaud Guiguitant, em Bali (Indonésia), para Le Monde.
Nesse cenário digno de Robinson Crusoé, 120 alunos com idade entre 3 e 14 anos são conscientizados sobre a proteção do planeta. Além de um ensino clássico, reconhecido pela universidade britânica de Cambridge, a maioria das aulas aborda as problemáticas relacionadas à preservação do meio ambiente. Dessa forma, as crianças são estimuladas desde muito cedo para a prática da agricultura orgânica, para a reciclagem, e para os meios de transporte limpos.
“Queremos formar uma geração de cidadãos responsáveis, capazes de agir de forma sustentável pelo planeta. Eles aprendem a consumir equitativamente, a economizar energia, a jardinar e desfrutar dos benefícios da terra, sem poluir ou desperdiçar”, diz Hardy.
Nessa manhã, a aula de ciências era dada à beira do rio Ayung, abaixo do campus. Ali fazem testes com a nova microhidrelétrica que deverá fornecer energia para a escola, além dos painéis solares já existentes. “Como isso funciona? Que potência ela produzirá? É com isso que funcionam nossos computadores!” Os alunos, intrigados mas não desconectados do mundo moderno, se perguntam sobre essas soluções de energias renováveis. “Fazemos com que eles descubram essas alternativas ao petróleo, a fim de que eles entendam que elas se tornaram necessárias para não esgotar nossos recursos”, afirma Hardy.
O bambu reina sozinho
Fim da aula. Em outra classe, reflexões para encontrar novas aplicações para o bambu. Aqui, ele reina sozinho. Quilômetros dessa planta serviram para a construção da escola, bem como para a fabricação de cadeiras, carteiras, armários, lousas e até tabelas de basquete. Escolhido em razão de sua abundância na Indonésia – o campus tem seu próprio viveiro de 15 mil plantas para combater o desmatamento – , o bambu pode armazenar grandes quantidades de dióxido de carbono (CO2).
“Limitamos a utilização do cimento, do concreto e dos plásticos por causa de seu impacto sobre o meio ambiente. 99% do campus foi concebido a partir de materiais naturais, com pouca emissão de carbono, colhidos na ilha”, explica Hardy, que incluiu no programa uma aula de pesquisas sobre os “métodos de sequestro do CO2”.
Outras escolas verdes poderão surgir em breve na Índia, na China e no Vietnã com essa mesma divisa: “Escolha seu futuro”. “É preciso agir rápido”, diz Louis, um aluno belga de 13 anos. “Precisamos mudar nossa atitude, pensar em desenvolvimento sustentável e reciclagem. Sem isso, o planeta corre um grande perigo”.
Tradução: Lana Lim
(Le Monde, UOL Notícias, EcoDebate, 06/09/2010)