O processo de implantação da coleta seletiva pode estar mais próximo de se tornar realidade no município. Desde quarta-feira, a Cooperativa dos Catadores de Santa Cruz do Sul (Coomcat) – antiga Associação Ecológica de Catadores de Materiais Recicláveis –, trabalha na administração da Usina Municipal de Reciclagem. Além da gestão, eles são responsáveis pela triagem, classificação e separação dos resíduos. A coleta e a destinação final continuam sendo realizadas pela Conesul – empresa que comandava toda a operação desde 1998.
O repasse da usina para os catadores era uma reivindicação antiga da categoria, e ganhou força nas discussões do Fórum de Ação pela Coleta Seletiva Solidária (Facs), criado em maio do ano passado. Em julho desse ano, a Câmara de Vereadores aprovou o projeto de lei que autoriza a transferência, aumentando a expectativa dos catadores por melhores condições de vida. Segundo o coordenador da Coomcat, Fagner Jandrey, a fundação da cooperativa viabilizará o acesso a direitos como auxílio-acidente, a capacitação por meio de convênios estaduais e nacionais, e a conquista da usina aumentará a oferta de emprego. “A ideia é ampliar cada vez mais, mas não só oferecer trabalho como também condições dignas às pessoas”, esclarece Jandrey.
Com a previsão de um futuro melhor, Luís Carlos Nunes ingressou no novo ambiente de trabalho com o pé direito. Há três anos atuando no grupo – antes no pavilhão situado no Bairro Faxinal –, ele acompanhou de perto a luta pela valorização da categoria e hoje participa do processo de reciclagem com mais satisfação. “Esse espaço representa uma conquista para nós, faz tempo que queremos trabalhar aqui”, conta.
MEIO AMBIENTE
No momento a usina conta com 26 operários. Desses, 11 atuam exclusivamente no setor de reciclagem, sete a mais em comparação à época em que o local era administrado pela empresa privada. “Isso sem dúvida aumentará o volume de material reciclado, beneficiando o meio ambiente”, afirma Jandrey. A usina recebe cerca de 90 toneladas de lixo por dia, sendo que apenas 8% dos resíduos eram reciclados. Conforme Jandrey, o índice de material separado pode chegar a 54%, mas para isso é necessário a implantação da coleta seletiva. “Colocar isso em prática também é um dos nossos objetivos, já que reciclagem e coleta seletiva não podem andar dissociadas”, adianta.
Outra meta é reformar a estrutura da usina, que já sofre com os sinais do tempo. “Vamos buscar recursos através de projetos para executar as obras e continuar defendendo a bandeira para a usina permanecer pública”, diz o coordenador. O secretário municipal do Meio Ambiente, Alberto Heck, aposta no sucesso do novo formato da usina e acredita que, como cooperativa, os catadores estarão bem organizados para gerir o local. “É uma forma de inclusão e de aumentar o volume do material reciclado, já que mais pessoas estarão empenhadas na triagem”, opina.
Lixo tecnológico
O projeto para recolher resíduos eletrônicos e pneus, previsto para entrar em funcionamento em agosto, ainda está em fase de implantação. Segundo Heck, o atraso se deve à formalização dos convênios com as empresas IZN Recicle, de Porto Alegre, e Reciclanip, de São Paulo. Com as parcerias oficialmente formadas, o local escolhido para funcionar como ponto de coleta – um pavilhão com cerca de 2,6 mil metros quadrados em um local ainda não divulgado pela Prefeitura –, poderá receber aparelhos eletrônicos como televisores, celulares, computadores, geladeiras entre outros dispositivos, além de pneus. O lixo tecnológico será recolhido mensalmente por uma transportadora contratada pela IZN Recicle, e os pneus serão coletados pela Reciclanip na medida em que se formar estoque de dois mil pneus de carros de passeio e 300 pneus de caminhões de carga.
Enquanto isso, os santa-cruzenses seguem com dificuldades para descartar esse tipo de lixo, considerado altamente prejudicial ao meio ambiente e à saúde pela sua composição de materiais como mercúrio, cádmio, berílio e chumbo. A solução ainda é procurar iniciativas isoladas, como campanhas promovidas pelos Amigos da Água, ou coletores ecológicos distribuídos pela empresa Ecolog Serviços Ambientais, que atende pelo telefone 3056 2395. O próprio Movimento Nacional dos Catadores recebe lixo tecnológico no pavilhão localizado na Rua Dona Carlota, 2075.
(Por Roseane Bianca, Gazeta do Sul, 04/09/2010)