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2010-09-03 | Tatianaf

Para não correr o risco de racionamento de energia em períodos de seca, quando baixa muito o nível dos reservatórios das hidrelétricas, prevalecia até há pouco tempo a tendência de favorecer a construção de usinas termoelétricas, movidas a óleo combustível ou a gás natural. Há anos em vigor, o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) atuava mais no âmbito da Eletrobrás, mas o cenário começou a mudar em dezembro do ano passado, com a realização do primeiro leilão de fontes renováveis.

No segundo leilão desse tipo, em 26 de agosto, quando foram negociados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) 2.892,2 megawatts (MW) de capacidade, os resultados foram surpreendentes até mesmo para os técnicos e empresários. Foram contratados na ocasião 50 parques eólicos, que ficaram com 70% do total ofertado, a um preço médio de R$ 130,86 por megawatt/hora (MWh), abaixo do preço das termoelétricas a gás natural (R$ 140 por MWh). Como disse o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, foi quebrada uma série de paradigmas, uma vez que a energia eólica mostrou ser competitiva mesmo em relação à produzida por biomassa (R$ 144,20 o MWh) e por pequenas centrais hidrelétricas (R$ 141,93 o MWh).

A capacidade de produção de energia eólica, que era incipiente até a realização dos dois leilões, não passando de 600 MW em 2009, deve alcançar 4.454 MW em três anos e sua participação na matriz energética brasileira deve ficar em torno de 2,5%. É uma fatia pequena, mas tem muito espaço para expansão, estando o maior potencial no Nordeste e no Rio Grande do Sul.

Há inconvenientes, é verdade. A instalação de parques eólicos em determinadas áreas deve ser cuidadosa e até evitada, se for prejudicial ao ecossistema ou causar um impacto visual negativo. O barulho causado pela operação dos aerogeradores impõe limites mínimos de distância de áreas habitadas. Além disso, os ventos mudam e não sopram sempre com a mesma intensidade durante todo o ano. O Brasil, porém, apresenta algumas vantagens naturais, segundo Ricardo Simões, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). Ele cita o fator capacidade de geração, que está na casa de 40% no País, em comparação com 22% na Europa, ou seja, as unidades brasileiras podem geram mais energia por MW instalado.

A ABEEólica vem mapeando locais adequados em vários Estados, incluindo propriedades privadas, nas quais a instalação de aerogeradores pode complementar a renda de produtores rurais, que receberão aluguel pelas áreas cedidas para esse fim. A tecnologia nesse setor tem evoluído rapidamente e hoje existem aerogeradores que amenizam os problemas de ruído. Além disso, como notam os especialistas, a energia eólica, dadas as condições climáticas, tende a ser associada, no futuro, à energia solar.

Um grande problema para a expansão da energia eólica no Brasil era o elevado custo. Contudo, a queda da demanda por energia nos países europeus, como consequência da desaceleração de suas economias, barateou os preços internacionais de geradores e outros equipamentos. Há algum tempo, estimava-se que o custo de um parque eólico estava em torno de R$ 5 milhões por MW instalado. Hoje, esse custo é calculado entre R$ 4 milhões e R$ 4,2 milhões por MW. Com a concessão de isenção fiscal e financiamentos a mais longo prazo do BNDES, fábricas de equipamentos específicos já se instalaram ou estão em processo de instalação no Brasil.

Estima a ABEEólica que os parques de geração de energia eólica no Brasil poderão vir a ter uma participação de 20% na matriz energética brasileira nas próximas duas décadas. Trata-se de uma meta ambiciosa, mas, de qualquer forma, a energia eólica tende a crescer no País e sua contribuição para o meio ambiente será notável, uma vez que se trata de uma das formas mais limpas de geração de energia, que, não necessitando de combustível algum, não gera gases de efeito estufa.

(O Estado de S.Paulo, 03/09/2010)


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