Os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável - IDS 2010, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), colocaram os Rios dos Sinos, Gravataí e Caí entre os mais poluídos do Estado. O Sinos, responsável por abastecer 32 cidades da região, aparece como o mais poluído da região metropolitana de Porto Alegre. O motivo? Falta de saneamento básico, comprovada por levantamento do Consórcio Público de Saneamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Pró-Sinos), segundo o qual 18 cidades da região tratam entre 1% e 3% do esgoto (Novo Hamburgo trata 6% e São Leopoldo 50%). A pesquisa ainda considera o Sinos o rio mais poluído da região de Porto Alegre, em função do parque industrial, especialmente o da cadeia coureiro-calçadista.
A pesquisa
O reflexo do lançamento de esgoto doméstico nos principais rios da região são índices abaixo do recomendado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama). Conforme dados de 2009, o Rio dos Sinos apresentou Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) de 2,7 miligramas por litro, enquanto o limite são 5 mg/L. Em 2006, ano da mortandade de 85 toneladas de peixes, o rio atingiu 9 mg/L, ultrapassando o limite ideal. Outro indicador, o Índice de Qualidade das Águas (IQA), é considerado ótimo acima de 80. Nesse quesito, o Sinos ficou entre 52 e 56, o Caí entre 68 e 72 e o Gravataí, entre 44 e 48.
OBJETIVO
A principal finalidade do levantamento é entrelaçar as dimensões ambiental, social, econômica e institucional, e mostrar em que ponto o Brasil está, também para onde sua trajetória está apontando dentro da ideia de desenvolvimento sustentável.
Área urbana aumenta poluição
Para o diretor-executivo do Consórcio Público de Saneamento da Bacia Hidrográfica do Rio dos Sinos (Pró-Sinos), Júlio Dorneles, uma das principais razões da poluição do Rio dos Sinos é o fato de cruzar uma grande área urbana com baixo índice de tratamento de esgoto. "Ainda podemos destacar a presença forte de indústrias coureiro-calçadistas. Isso tudo contribui para o resultado deste estudo’’, afirma Dorneles, acrescentando que, em toda a região, há um conjunto de ações sendo tomadas para aumentar o percentual de esgoto tratado. Hoje, dos 22 municípios do Pró-Sinos, São Leopoldo é o que mais trata (cerca de 50%). Novo Hamburgo trata 6%, 18 municípios tratam entre 1% e 3% e dois municípios não tratam nada.
OUTROS DADOS DA PESQUISA
Focos de queimadas e incêndios florestais caíram 63% entre 2007 e 2009
Desflorestamento diminuiu, mas atinge 14,6% da Amazônia Legal
Desmatamento e queimadas lideraram emissões de gases-estufa
A poluição do ar se manteve estável nas grandes cidades, mas a concentração de ozônio cresceu
A área dos estabelecimentos agropecuários teve redução de 5,6%
Unidades de conservação federais ocupam 9% do território
Com fecundidade abaixo do nível de reposição, o crescimento populacional se reduziu
Trabalho e rendimento no Brasil tiveram avanços, mas com desigualdades sociais importantes
Queda da mortalidade infantil e aumento da esperança de vida revelaram melhora geral das condições de vida da população
O país teve 25,4 mortes por homicídio e 20,3 por acidente de transporte a cada cem mil habitantes
43% dos domicílios brasileiros foram considerados inadequados
Caiu número de internações por doenças ligadas ao saneamento ambiental inadequado
O consumo de energia per capita atingiu 48,3 GJ/hab, mas a eficiência do uso não aumentou
Quase metade da energia brasileira provém de fontes renováveis
Mais de 90% das latas de alumínio no Brasil são recicladas
País ratificou mais de 30 acordos ambientais internacionais
Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento aumentou, mas não passou de 1% do
PIB
O acesso à telefonia móvel dobrou de volume em quatro anos, e os domicílios com Internet quase triplicam entre 2001 e 2008
ENTENDA OS ÍNDICES
Segundo o assessor do Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público Estadual, Jackson Müller, o DBO é o índice que mede o consumo de oxigênio da matéria orgânica e dos organismos vivos, ou seja, é a "fome de oxigênio do rio". Quanto maior o índice, pior é a situação
O IQA, explica Müller, surge do cruzamento de outros índices. É o indicativo de saúde do rio. Quanto mais alto o IQA, melhor a qualidade da água
Em relação aos índices divulgados pelo IBGE, Müller alerta para números mais alarmantes. "O Rio dos Sinos tem 190 quilômetros de extensão e há pontos críticos, como de Novo Hamburgo a Sapucaia do Sul. Neste ano, em Novo Hamburgo, por exemplo, a média de DBO é próxima a 4 mg/l, quase o limite, que é de 5 mg/l", revela
Mais críticos são Sinos e Gravataí
Engenheiro químico da Fepam, Enio Henriques Leite afirma que os Rio dos Sinos e Gravataí são os mais críticos. O Caí apresenta focos de poluição, mas não pode ser colocado no mesmo patamar. Leite aponta que há um fator natural que interfere muito na qualidade da água: as estiagens. "Quando a taxa de oxigênio cai brutalmente nestes períodos, a poluição volta a se concentrar", explica. Segundo avaliação do profissional, os piores problemas ainda são os esgotos cloacais e o lixo jogado pela população.
Para 2016, tratamento de 80% do esgoto
A projeção para 2016, dez anos após a mortandade de peixes no Sinos, é que os municípios do Pró-Sinos cheguem a um percentual entre 70% e 80% de esgoto tratado. "Isso irá gerar uma melhor qualidade da água do Rio dos Sinos’’, projeta o diretor-executivo Júlio Dorneles, explicando que o processo de despoluição é longo, lento e gradual. "Com mais esgoto tratado, em dez anos será possível melhorar em 40% a 50% a condição do rio’’, estima. Para outubro, deve ser apresentado o Plano de Gerenciamento da Bacia do Sinos, onde estarão previstas ações para resolver tais questões. Em Novo Hamburgo, meta até 2014 é tratar 80% do esgoto cloacal da cidade.
(Por Claucia Ferreira, Jornal VS, 02/09/2010)