Os leitores de jornais devem estar achando que a imprensa brasileira se converteu definitivamente ao ambientalismo. O Estado de S.Paulo, na série dedicada aos desafios do futuro presidente da República, traz um caderno especial de doze páginas sobre o valor do patrimônio ambiental, no qual defende a preservação das florestas e do cerrado. Trabalho bem feito, surpreendente para um jornal conhecido por abrigar as mais retrógradas campanhas do agronegócio e sua bancada ruralista.
Com exceção do Globo, os jornais também dão destaque ao mais recente levantamento sobre o desmatamento da Amazônia. Segundo a Folha de S.Paulo, pela primeira vez na história a destruição da floresta deve apresentar uma redução em ano eleitoral, quando normalmente a fiscalização se torna mais frouxa. Os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e da ONG Imazon revelam que teremos em 2010 uma taxa de devastação muito menor do que a do ano anterior.
Onde? Onde?
O caderno especial do Estadão abriga de forma ampla os conceitos essenciais da sustentabilidade, como o valor estratégico da defesa do meio ambiente para um país como o Brasil, fato raro na imprensa brasileira. Traz uma entrevista esclarecedora do físico José Goldemberg, na qual ele derruba o mito segundo o qual a preservação pode prejudicar a produção de alimentos. Além disso, uma das reportagens demonstra como o agricultor que respeita a legislação ambiental acaba ganhando com a qualidade da água e o controle natural das pragas.
São informações relevantes para contestar as barbaridades contidas no relatório do deputado Aldo Rebelo, do PCdoB, que prega a flexibilização da lei.
Também muito instigante é a reportagem da Folha de S.Paulo, reproduzida do inglês The Guardian, revelando que um dos mais notórios céticos do aquecimento global, o estatístico dinamarquês Bjorn Lomborg, acaba de se converter em defensor da luta contra as mudanças climáticas.
Lomborg, que vendeu muitos livros e liderou um pequeno grupo de cientistas e curiosos que tentou desmoralizar o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, agora afirma que o mundo precisa destinar US$ 100 bilhões anualmente para evitar o desastre climático.
Talvez seja hora de perguntar como ficam os ruidosos céticos, entre os quais muitos jornalistas, que durante dois anos negaram as evidências dos problemas ambientais.
(Por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa, 1/9/2010)