Se os reatores não forem desativados em 2022, conforme prevê a lei, e continuarem funcionando por mais uma ou duas décadas, a economia do país terá vantagens. Esse é o argumento do governo em Berlim.
A chanceler federal alemã, Angela Merkel, defende a extensão do prazo de funcionamento das usinas atômicas por mais 15 anos. Após ponderar o parecer de peritos sobre a questão, a chefe de governo considera essa solução sensata, conforme declarou à emissora ARD.
Segundo um estudo encomendado por Berlim, as vantagens econômicas de um prolongamento intermediário de 12 a 20 anos seriam maiores do que alternativas extremas, como apenas 4 anos ou o período bem mais longo de 28 anos.
“Após comparar quatro situações hipotéticas – a extensão do prazo de funcionamento dos reatores em 4, 12, 20 e 28 anos, chegou-se à conclusão de que os melhores resultados se revelam no intervalo de 12 a 20 anos”, resumiu a revista Focus a análise feita pelos institutos EWI e Prognos. Essa informação também foi confirmada pelo ministro Rainer Brüderle em entrevista ao periódico Wirtschaftswoche no sábado (28/08).
Mudança da política energética
Na Alemanha, a energia atômica é uma fonte com os dias contados. No ano 2000, a coalizão de governo da época, formada por social-democratas e verdes, acertou o fim gradativo da produção de energia nuclear no país. De acordo com a determinação inserida em 2002 na Lei de Energia Atômica, todas as usinas deverão ser desligadas gradativamente até 2022.
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Usina de Stade em foto de 1973Um ano após a reforma da lei o reator de Stade, na Baixa Saxônia, foi desativado; o mesmo ocorreu em maio de 2005 com Obrigheim, em Baden Würtemberg. Atualmente, a Alemanha tem 17 usinas nucleares em funcionamento.
Desde a última sexta-feira, especialistas dos ministérios da Economia e Meio Ambiente discutiram quatro alternativas diferentes para alterar a determinação vigente e prolongar o prazo de funcionamento dos reatores nucleares. O parecer deverá servir de base para a decisão governamental a ser tomada dentro de um mês.
Vantagens do prolongamento
Os relatos da mídia alemã apresentam de forma contraditória o proveito econômico da decisão, mencionado no parecer. Segundo a revista Der Spiegel, prazos nitidamente mais longos do que os atuais não necessariamente trariam vantagens econômicas. Além disso, os peritos advertem que uma longa extensão de prazos certamente inibiria os investimentos em fontes renováveis de energia.
Segundo os diários Frankfurter Allgemeine Zeitung e Stuttgarter Zeitung, e a revista Focus, um nítido prolongamento do prazo de funcionamento dos reatores traria o máximo de proveito econômico. A extensão por 20 anos tornaria o preço da eletricidade 35% mais barato do que uma prorrogação por apenas mais quatro anos.
Se as usinas pudessem funcionar por mais 12 anos além do previsto, a redução do preço da eletricidade seria de 20%. No entanto, o preço pago pelos consumidores particulares, se o prazo fosse estendido em 20 anos, seria somente 7% mais baixo que no caso de uma prorrogação de quatro anos.
Ainda segundo os periódicos citados, um prolongamento de 20 anos traria um crescimento de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB), gerando 71 mil novos empregos, além de reduzir mais 16% as emissões de CO2.
O parecer dos especialistas deverá servir de base para o plano de energia do governo, a ser fechado no final de setembro.
Verdes repudiam decisão do governo
Segundo a revista Der Spiegel, os ministros da Economia, Rainer Brüderle, e do Meio Ambiente,
Norbert Röttgen acertaram algumas metas, mas discordam quanto à extensão do prazo de funcionamento das usinas atômicas. Uma das prioridades do Ministério do Meio Ambiente é reforçar as paredes de concreto externas dos reatores, a fim de aumentar a proteção contra possíveis atentados; contudo, isso não seria rentável no caso dos reatores mais antigos.
Para a líder da bancada verde no Parlamento alemão, Renate Künast, a decisão ideológica de estender o prazo de produção de energia atômica na Alemanha já foi tomada há muito. Agora os políticos do governo só estariam buscando uma argumentação para sustentar o seu plano. “Energia atômica é uma tecnologia de alto risco, para cujos dejetos não existem depósitos e para cujos custos os contribuintes são impiedosamente sugados”, declarou ela.
Hans Josef Fell, perito de energia do Partido Verde, afirmou que o instituto EWI, principal responsável pela elaboração do parecer, é financiado pelos conglomerados de energia E.ON e RWE. Para a presidente do partido A Esquerda, Gesine Lötzsch, o parecer sobre energia nuclear deveria ser submetido ao Tribunal de Contas.
Os estados alemães já mostraram resistência à política de energia do governo federal. Caso a decisão de prolongar os prazos de funcionamento das usinas nucleares não passe pelo crivo do Bundesrat, câmara alta do Parlamento alemão, diversos estados pretendem apelar ao Tribunal Constitucional Federal.
(Deutsche Welle, DW-WORLD.DE, EcoDebate, 01/09/2010)