Autoridades de saúde americanas devem decidir se um salmão geneticamente modificado, que cresce mais e mais rápido que os naturais, pode ser liberado para o consumo nos Estados Unidos. Se a decisão for favorável, esse será o primeiro animal transgênico presente à mesa da população no país.
No dia 19 de setembro, a agência de vigilância sanitária Food and Drug Administration (FDA) dará início a uma reunião de três dias para discutir a possibilidade de aprovar o salmão modificado, chamado de AquAdvantage. Consultores externos vão oferecer dados e aconselhamento, embora a FDA tome a decisão final posteriormente.
A empresa de biotecnologia Aqua Bounty Technologies Inc., de Massachusetts, busca aprovação para vender o salmão transgênico para criadores em todos os Estados Unidos. O peixe é manipulado para crescer o dobro que o tradicional salmão do Atlântico, algo que, segundo a companhia, poderia impulsionar o setor pesqueiro americano e reduzir o impacto sobre o meio ambiente.
Mas especialistas em defesa do consumidor e em segurança alimentar estão preocupados que a alteração genética dos peixes possa ter o efeito contrário, levando a uma agricultura mais industrial e a uma potencial evasão para o campo. Os efeitos colaterais do consumo do peixe também são desconhecidos, com poucos dados para mostrar que ele é seguro.
"Estão, basicamente, colocando os peixes sob hormônio de crescimento permanente para que possam vender animais maiores e mais rapidamente", disse o analista político Jaydee Hanson, da ONG Centro para Segurança Alimentar.
A iniciativa também levanta questões sobre a industrialização dos suprimentos alimentares do país, numa época em que os consumidores - irritados com recalls de ovos e outros produtos - estão cada vez mais preocupados com segurança e interessados em refeições produzidas localmente.
Se a luz verde for dada pela FDA, o salmão pode ser seguido por uma truta e uma tilápia geneticamente modificadas pela Aqua Bounty. Outros cientistas também estão desenvolvendo porcos e vacas transgênicos para o consumo. Atualmente, os Estados Unidos já permitem vegetais transgênicos.
"Esse é um salmão do Atlântico em todos os sentidos mensuráveis", disse o presidente executivo da empresa, Ronald Stotish. "Quando você olha para o peixe, é impossível ver a diferença", completa.
A possibilidade de os consumidores aceitarem ou não animais geneticamente modificados pode impulsionar ou quebrar a empresa de biotecnologia, que aposta seu futuro nessa técnica desde que espera por uma aprovação, há 15 anos. Em 2009, a companhia registrou uma perda de US$ 4,8 milhões após uma reestruturação, em 2008, para preservar o caixa e se concentrar em terminar o processo de aprovação na FDA. Neste ano, a Aqua Bounty viu suas ações subirem 75%, para US$ 16 cada.
(Reuters, Estado.com, 01/09/2010)