Resgatar e valorizar os hábitos dos índios caingangues e estimular a sociedade a manter práticas alimentares mais saudáveis. Esses foram os objetivos de Lívia Zimmermann no trabalho de conclusão do curso de pós-graduação em Saúde Coletiva, com o tema "Resgate Descritivo de Rituais e Práticas de Cura dos Índios Caingangues Urbanos Residentes na Região Metropolitana de Porto Alegre".
O trabalho, de 133 páginas, foi defendido pela mestre em Saúde Coletiva na Ulbra, em Canoas. Segundo Lívia, o estímulo para desenvolver o projeto veio da mãe, fundadora da Associação de Apoio ao Índio. "A inspiração também veio quando assessorei um trabalho sobre ervas medicinais usadas pelos caingangues."
Entre as conclusões do projeto está a constatação de que o uso de plantas medicinais em chás, por exemplo, somente é válida se a planta for colhida antes de o sol nascer. "Os índios explicaram que não adianta a planta ser medicinal se for colhida na luz e no calor do sol, já que é à noite que as plantas repõem os nutrientes perdidos com o calor do sol." Outra revelação foi a de que, em 1800, os índios caingangues viviam nus nas florestas de araucárias mesmo em épocas de frio. "Nunca ficavam doentes. Não tinham resfriados nem doenças pulmonares", disse Lívia, acrescentando que só por volta de 1850 começaram a usar vestimentas. "Quando foram estimulados a usar roupas começaram a adoecer."
No que se refere à alimentação, a autora do projeto lembrou que quando os índios começaram a ingerir alimentos brancos, como arroz, açúcar e farinha, contraíram diabetes. "Os índios deveriam ter mantido até hoje uma alimentação orgânica, sem uso de agrotóxicos." Outro objetivo de Lívia é mostrar para a sociedade a importância das boas práticas de alimentação. "O que eu defendo é que podemos prevenir muitas doenças com o uso de ervas medicinais e boa alimentação, evitando que os leitos dos hospitais fiquem cheios. Tudo começa com uma alimentação saudável", observou.
(Correio do Povo, 31/08/2010)