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incêndios florestais
2010-09-01 | Tatianaf

Os ambientalistas estão alarmados. Os incêndios neste verão em Portugal queimaram cerca de cem mil hectares, liberaram na atmosfera um milhão de toneladas de gases-estufa e, o que é mais grave, as florestas perderam sua capacidade de absorver carbono.

Para os especialistas, a quantidade de emissões de dióxido de carbono (CO²) não é preocupante, comparada com a de 2008 (último ano com estatísticas oficiais totais), mas sim o fato de a superfície florestal do país ter perdido 3% de sua capacidade de fixação de carbono. Até o dia 15 deste mês, a superfície queimada este ano era de 75 mil hectares, mas desde então estimativas extraoficiais indicam que outros 25 mil hectares foram arrasados pelas chamas.

A não governamental Associação Nacional de Conservação da Natureza Quercus destacou que cálculos acadêmicos situam o impacto dos incêndios em 1,1 milhão de toneladas de CO², número equivalente a 29 milhões de automóveis percorrendo os 310 quilômetros de estrada que separam Lisboa da cidade do Porto. A Quercus admitiu que não é uma grande quantidade, mas destacou que é um CO² que não deveria ser emitido e que contribui para reduzir ainda mais a capacidade das áreas florestais para a absorção de carbono, “manchando” o comportamento de Portugal no âmbito do Protocolo de Kyoto.

De fato, a Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática reconhece que as áreas florestais funcionam como freio às emissões, por isso sua preservação contribui para reduzir o processo de aquecimento global. Em 2008, as áreas florestais portuguesas conseguiram absorver 4,42 milhões de toneladas de CO². Ainda não há dados oficiais finais sobre 2009, mas os cálculos da empresa privada nacional Off7, que cuida da certificação das emissões, indicam perda de 3%, equivalente às cem mil toneladas que as florestas não puderam impedir que fossem liberados na atmosfera.

Repor esta capacidade de captação de carbono pode demorar décadas, inclusive se for feito um reflorestamento imediato, já que as árvores precisam de vários anos até alcançar plena capacidade de absorção, estimam os técnicos da Off7. Ao mesmo tempo, os especialistas da Quercus e da Off7 concordam que Portugal poderá chegar à data de vencimento do Protocolo de Kyoto, em 2012, com uma cota de emissões de CO² excedendo em dez milhões de toneladas o permitido para o país.

Unido a este efeito preocupante sobre a emissão de gases-estufa, o mês de agosto registrou verdadeira tragédia para vastas áreas protegidas do centro e norte do país, que fazem parte da lista dos mais atraentes e frondosos parques naturais da Europa. Um dos mais afetados foi o Parque Nacional de Peneda-Gerês, no extremo norte do país, onde foram queimados dez mil hectares, 12% do total dessa área protegida que está sob o cuidado do Instituto de Conservação da Natureza e da Biodiversidade.

Nas designadas “zonas de proteção total” de Peneda-Gerês, o número é ainda mais dramático, já que queimaram 26% dessa área de extrema importância ambiental. Além disso, nos primeiros 20 dias deste mês, as chamas consumiram 5,53% do Parque Natural da Serra da Estrela, de 101 mil hectares. Dentro do Parque, o Vale de Azares ficou carbonizado em 85%.

Culpados? Os suspeitos habituais: as empresas madeireiras e de celulose, os proprietários de terras que não retiram o mato de seus terrenos e os piromaníacos. Até agora, a polícia deteve 38 supostos incendiários. O Estado, principal proprietário de áreas florestais e de matas do país, “nunca assumiu sua responsabilidade e nos ameaça, os pequenos, com a intervenção em nossas terras se estas demonstrarem abandono”, disse à IPS José Ferreira Serrão, morador da região de Peneda-Gerês.

“O êxodo dos jovens para as cidades nas últimas décadas, a falta de limpeza de áreas florestais, públicas e privadas, bem como o quase desaparecimento do antigo oficio de pastor e vaqueiro, substituído por grandes e modernos criadouros de vacas, cabras e ovelhas, levam ao acúmulo de mato seco”, acrescentou José. Na estação mais quente, com temperaturas que em agosto chegam aos 41 graus, este mato se transforma em excelente combustível, atiçado pelos fortes ventos das serras setentrionais portuguesas.

Nos 12 primeiros dias de agosto, o país registrou temperatura máxima média de 33,9 graus, 5,1 graus acima da média normal no período 1971-2000. Julho foi o mês mais seco dos últimos 24 anos, enquanto a temperatura média do ar foi de 31,7 graus, a maior desde 1931. Os ecologistas e engenheiros agrônomos reconhecem que este quadro climático favorece os incêndios. Porém, destacam que a falta de ordenamento florestal é o grande culpado pelo fato de, em cada verão, os incêndios arrasarem grandes extensões do país.

José concorda com este julgamento, porque, a seu ver, “em Portugal só se discute e analisa os problemas florestais quando queimam milhares de hectares de florestas”. Outro morador, Rui da Gama, afirmou que “os grandes incêndios começaram em Portugal com os interesses das produtoras de celulose”, o principal componente do papel. “Mostre um incêndio, um só, que tenha começado em terrenos das fábricas de celulose. Eles chegaram, incendiaram e compraram os terrenos vazios por quatro centavos, se transformando nos maiores proprietários do país. Só não vê quem é cego”, afirmou.

Mais comedido, o também camponês José Viseu lamentou que o governo (do primeiro-ministro socialista José Sócrates) limite-se a proporcionar grandes meios, como aviões recém-comprados e helicópteros para combater o fogo, “o que oferece excelente material para as televisões nacionais e estrangeiras”. Apesar disso, o camponês destacou que “o combate não tem resultado, porque é necessária uma política florestal consequente, que passe pelo ordenamento e pela manutenção. Sem isso, o valor patrimonial das áreas verdes vai empobrecer cada vez mais”.

Este ano, Portugal registrou mais incêndios do que Espanha, França e Itália, países do sul da Europa com clima semelhante e superfícies entre quatro e seis vezes maiores. A média de incêndios florestais em 2010 já superou a dos últimos três anos, mas ainda está longe de aproximar-se dos recordes trágicos de 2003 e 2005, quando, em conjunto, queimaram 764 mil hectares, equivalentes a 14% da área florestal total de Portugal. Envolverde/IPS

(Por Mario de Queiroz, IPS, Envolverde, 31/8/2010)


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