Importador de praticamente todo o etanol utilizado localmente, o Rio Grande do Sul ganha novo impulso para produção do biocombustível. Um projeto que agrega a produção da cana-de-açúcar a outras culturas, com base na agricultura familiar, começa a ser delineado em parceria do sistema Fiergs por meio do Instituto Euvaldo Lodi (IEL-RS) e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). O Mais Etanol, Mais Alimentos propõe a melhoria dos processos de cultivo da cana com vistas ao abastecimento e ganho de competitividade da produção gaúcha.
"A gente pode ter uma indústria de biocombustíveis que seja capaz de incluir a agricultura familiar, que no Rio Grande do Sul é a mais competitiva do País", afirmou o ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel, após assinar o contrato que dá a largada à iniciativa, na tarde de ontem, na sede da Fiergs. Junto com o presidente da entidade, Paulo Tigre, Cassel lembrou que a inclusão social é um dos fatores que tem permitido o crescimento sustentável do Brasil e, por isso, deve ser o ponto norteador do programa.
Após o zoneamento que aponta o cultivo de cana em cerca de 35 mil hectares no Litoral, região Central e Noroeste do Estado, o primeiro passo do Mais Etanol, Mais Alimentos será o investimento de R$ 300 mil do MDA em pesquisas. Os estudos vão avaliar a viabilidade econômica e financeira da implantação do projeto. Em um prazo de seis a oito meses, segundo o ministro, resultados preliminares serão obtidos e ditarão a estrutura de um projeto-piloto no município de Cândido Godoi. O levantamento deve impactar na solução dos gargalos para execução do plano, como a tecnologia e aquisição de equipamentos agrícolas compatíveis com as propriedades associadas.
Outra preocupação apontada durante o encontro foi a entrada do Rio Grande do Sul em um mercado promissor e crescente como o dos biocombustíveis. O programa chega ao Estado como agente impulsionador da capacitação dos produtores familiares no setor. "Uma indústria forte passa pelos biocombustíveis", destacou o presidente da Fiergs. "Não tínhamos a tradição do etanol, mas podemos ter uma produção semelhante a de outros estados."
O impacto da implementação de políticas públicas voltadas à produção de biodiesel no Estado foi exemplificado pelo professor da Unisinos Luis Henrique Rodrigues, a partir da experiência da empresa BSBios, responsável por 22% da fabricação de biocombustíveis no Estado neste ano. Com um tripé baseado em inclusão social, diversificação das culturas e desenvolvimento regional, a inserção do produto gerou aumento do valor agregado da produção familiar. As vendas de canola, utilizada como matéria-prima, passaram de 51 mil toneladas para 128 mil toneladas entre 2008 e 2009. "O número de famílias atendidas pulou de 902 para 6.672", frisou Rodrigues.
(JC-RS, 31/08/2010)