Os esquimós polares pensavam ser os únicos habitantes do mundo até que uma expedição liderada pelo explorador escocês John Ross chegou até eles em 1818. Diferente de outras comunidades esquimós, eles não foram significativamente influenciados pela chegada do cristianismo na Groenlândia, portanto mantêm elementos de uma cultura xamânica muito antiga e sua vida não é muito diferente agora do que era antes. Muitos dos homens passam semanas longe de casa caçando focas, baleias, morsas e outros mamíferos. A língua deles é considerada uma linguagem fóssil e um dos mais antigos e puros dialetos inuit.
O interesse do linguista Stephen Pax Leonard nos inughuits começou há 10 anos, quando ele leu o livro The Snow People, de Marie Herbert, um relato da vida com os inughuits. Mas apenas recentemente ele soube o quão iminente é a ameaça ao estilo de vida e à cultura dessas pessoas.
– Eu não tinha percebido o quanto a comunidade está em perigo e que toda a sua cultura pode simplesmente morrer, desaparecer.
Leonard terá de se adaptar a muitas coisas, não apenas a temperaturas extremas. Embora a temperatura média seja de-25°C, ela pode despencar para -40°C ou subir a zero no verão. Ele também presenciará a escuridão do Ártico, pois o sol deve se pôr em 24 de outubro e não nascerá de novo até 8 de março. É nesta época do ano que os idosos falam e passam adiante suas histórias e poesias. Entretanto, Leonard admite:
– Eu não sei realmente como vou lidar com isso, para ser honesto.
Aparentemente é inevitável que os inughuits, em breve, sejam forçados a sair de sua terra natal e migrar para o sul da Groenlândia, o que torna a missão de Leonard ainda mais urgente. As mudanças climáticas já estão levando a uma notável redução no número de focas, e o gelo em breve ficará tão fino que será impossível usar os trenós puxados por cachorros.
Leonard pretende registrar os inughuits e, em vez de escrever uma gramática ou um dicionário, produzir uma “etnografia da fala” para mostrar como a linguagem e a cultura deles são interconectadas. Os registros serão digitalizados e arquivados e, então, retornarão à comunidade em sua própria linguagem.
– Essas comunidades, que podem estar a poucos anos da fragmentação, querem que sua situação cultural seja conhecida do resto do mundo – afirma.
Embora a catástrofe que as mudanças climáticas estão provocando no Ártico esteja bem documentada, e os inughuits sejam visitados com frequência, Leonard espera que sua estadia seja mais significativa do que as outras:
– Uma coisa que eu tenho dito é que eles estão cansados de jornalistas surgindo e escrevendo sobre o quão impressionante e horrível é o derretimento dos icebergs. E só isso. Então eles estão ansiosos para que alguém venha, viva com eles e reporte o que viu.
(Zero Hora, 30/08/2010)