Os leilões de fontes alternativas e de energia de reserva promovidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na semana passada reanimaram um tema defendido por políticos e empresários gaúchos: a regionalização dos certames. O Rio Grande do Sul conseguiu viabilizar no leilão de fontes alternativas 225 MW de potência instalada em energia eólica e mais 20 MW no reserva (que visa a contratar um volume de energia além do que as concessionárias solicitam). Esses parques eólicos serão construídos pelas companhias Enerfin, Oleoplan, REB 11 e CPE, nos municípios de Osório, Viamão, Rio Grande e Palmares do Sul.
Apesar do resultado dos projetos gaúchos, o secretário estadual de Infraestrutura e Logística, Daniel Andrade, admite que a expectativa era maior. Ele lembra que a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), no seu plano decenal, aponta que o objetivo do Brasil é instalar mais 63 mil MW, em dez anos, e nessa velocidade atual a meta fica comprometida. Andrade destaca que o Rio Grande do Sul também enfrenta uma "desigualdade de tratamento", principalmente quanto a benefícios e incentivos fiscais com que o Nordeste conta.
"Nós precisamos, definitivamente, de leilões regionais no Brasil", defende Andrade, que também é presidente do Fórum Nacional de Secretários de Estado para Assuntos de Energia. O dirigente revela que no dia 8 de setembro, acompanhado dos presidentes do Grupo CEEE e da Fiergs e de empresários, ele se reunirá com o ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, para discutir a regionalização no planejamento energético. "Esses leilões são a demonstração típica de que não podemos mais tratar o assunto nesse grau de centralização", afirma o secretário.
Andrade enfatiza que não se trata de uma briga política, mas de uma questão de engenharia e técnica. Ele lembra que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) possui um estudo que indica que a região Sul enfrentará riscos quanto ao fornecimento de energia a partir de 2013.
O presidente da Ventos do Sul, Telmo Magadan, concorda com Andrade sobre a importância de leilões regionais e salienta que, para atender ao crescimento da demanda de energia gaúcha, se não forem realizadas as gerações regionais, será necessário construir linhas de transmissão para "importar" energia de outros estados. Ele ressalta que o Rio Grande do Sul, além da disponibilidade de ventos, conta com opções como carvão e hidreletricidade.
A Ventos do Sul faz parte do grupo Elecnor/Enerfin e é responsável pela operação do parque eólico de Osório. Através da venda de energia no leilão de fontes alternativas da semana passada, a Enerfin implantará mais um parque de 26 MW no Estado e outros 20 MW pelo certame de reserva. Os complexos serão localizados próximos ao atual situado no Litoral Norte. Magadan calcula que o investimento necessário para realizar os novos empreendimentos, que contam com a participação de 27% do Grupo CEEE, será de R$ 200 milhões a R$ 250 milhões.
O dirigente relata que, com o resultado, o grupo Elecnor/Enerfin contará com cerca de 300 MW de energia eólica instalada no Rio Grande do Sul. "Tínhamos essa meta de expandir a geração no Estado e continuaremos com esse plano", afirma Magadan. Ele aponta que a fonte, considerada limpa, também é importante para a segurança energética nacional.
Sobre o leilão de fontes alternativas, o presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Ricardo de Maya Simões, avaliou como positiva a conclusão do evento. Ele sustenta que disputas como essa precisarão ser periódicas para incentivar uma cadeia produtiva e atrair novos empreendedores. Quanto a leilões regionais,
Simões argumenta que é necessário ver o País como um todo e acrescenta que o Nordeste engloba vários estados com capacidade para a geração eólica. Simões ressalta ainda que a venda de energia de alguns projetos gaúchos demonstra que a região Sul também pode ser competitiva.
(Por Jefferson Klein, JC-RS, 30/08/2010)