Os leilões de energia de reserva e A-3 realizados nesta semana mostraram que a energia eólica é uma alternativa viável aos combustíveis fósseis e que os preços podem ser ainda mais baixos em eventos futuros.
Dos 89 empreendimentos que venderam energia, 70 eram usinas eólicas. Os demais eram de biomassa e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs). Dado o grande número de usinas eólicas habilitados para o certame, tais números já eram esperados.
O que realmente surpreendeu os organizadores do leilão -a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE)- foi o preço da energia eólica: o valor médio foi de 130,86 reais por megawatt-hora (MWh), abaixo dos verificados para biomassa -de 144,20 reais- e PCHs -de 141,93 reais.
Tanto no leilão de reserva quanto no A-3 (cuja entrega de energia será iniciada em 2013), o preço-teto inicial para energia eólica era superior ao de biomassa e PCHs.
Na noite de quinta-feira, o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, afirmou que não esperava um valor tão baixo para o preço da energia eólica sem a existência de subsídios federais.
Já o diretor-geral da Aneel, Nelson Hubner, afirmou que os preços máximos a serem estipulados pelo governo para energia eólica em leilões futuros poderão ser reavaliados.
"O resultado do leilão mostra o quanto os planejadores do governo estavam errados em não apoiar a eólica por tanto tempo", afirmou à Reuters nesta sexta-feira o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Heitor Costa.
De acordo com o especialista, a tendência para os preços da energia eólica é que continuem em queda nos próximos leilões. "O parque industrial vai sendo montado e as condições de financiamento melhoram", afirmou.
Em leilão de dezembro de 2009, o primeiro dedicado exclusivamente à fonte eólica, o preço médio ficou em 148,30 reais o MWh, apesar de um deságio de 21,5 por cento.
O professor da UFPE comentou ainda que tanto as energias a partir do vento quanto biomassa devem contribuir de forma significativa para a substituição das energias fósseis pelas renováveis. "Isso também pode reduzir a necessidade de grandes projetos de energia hídrica, como os da Amazônia, cujos custos são muito altos."
O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, disse que o resultado do leilão deve ser comemorado e lembra que a tendência mundial para os preços da energia eólica é mesmo de queda. Mas faz ressalvas.
"O Brasil precisa cada vez de energia e não se pode abrir mão de nenhuma. Existe a tendência de queda no preço, mas achar que a energia eólica vai substituir as fósseis é um pouco de exagero", opinou.
(Por Carolina Marcondes, Reuters, O Globo, 27/08/2010)