Especialistas apostam que a região em breve deve desenvolver seu próprio esquema de comércio de emissões aproveitando o boom das energias renováveis, porém polêmicas envolvendo o MDL põem em dúvida a credibilidade da iniciativa
A vocação da Ásia para atrair investidores somada ao crescente interesse em energias renováveis e em preservação ambiental torna a região um campo fértil para o estabelecimento de um mercado de carbono, acreditam especialistas do setor.
Segundo as Nações Unidas, em julho de 2010 existiam 2300 projetos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no planeta, 75% deles no continente asiático.
Além dessa grande participação no MDL, a previsão é que o mercado de energias renováveis na Ásia seja avaliado em até US$ 55 bilhões na próxima década.
“Se você olhar para o fato de que 80% a 85% dos créditos de carbono mundiais saem de projetos na Ásia, então faz sentido imaginar que um país como Singapura possa ser um centro de comércio de emissões”, explicou Edwin Khew, da Associação de Energia Sustentável de Singapura.
O destino das negociações climáticas internacionais e a consolidação de um acordo global para a redução de emissões serão fatores decisivos para determinar quando se dará a criação do mercado de carbono asiático.
Porém alguns setores da indústria seguem sendo contrários a qualquer política que afete a produtividade e problemas com credibilidade, transparência e corrupção também prejudicam o desenvolvimento do esquema de emissões.
MDL
Já existe um histórico de empresas asiáticas querendo tirar proveito do comércio de permissões como foi o caso de diversas companhias que estão sob investigação por estarem produzindo uma quantidade anormal de hidrofluorcarbonos (HFCs) para lucrarem com a venda de Reduções Certificadas de Emissões (RCEs).
Agora, são as usinas termoelétricas que utilizam a chamada tecnologia de carvão limpo, que permite menos emissões de gases do efeito estufa, que podem ficar de fora do MDL.
Desenvolvedores chineses temem que a decisão da ONU de não conceder créditos para uma usina na Índia sirva de precedente para que nenhum projeto de carvão limpo receba.
Em julho, a ONU rejeitou a candidatura no MDL de uma usina indiana de quatro mil megawatts da Tata Power que está sendo construída no estado de Guajarat. Segundo as Nações Unidas, o projeto viola o principio de adicionalidade, que tem como objetivo destinar recursos para projetos que mais necessitem deles para serem viáveis.
“Considero difícil que projetos de carvão limpo sobrevivam sem o MDL. Apenas umas poucas companhias chinesas tocaram os seus sem o financiamento da ONU, mas tinham o subsídio do governo”, explicou um executivo da fornecedora de energia estatal chinesa Guodian à Reuters.
Termelétricas com a tecnologia de carvão limpo ganharam o direito de se candidatar no MDL em 2007. Utilizando métodos mais eficientes e modernos, elas emitem 15% menos CO2 que as usinas tradicionais.
Porém grupos ambientalistas defendem que elas continuam a ser grandes poluidoras e não deveria caber a ONU financiar esse tipo de projeto.
A comissária européia de ação climática, Connie Hedegaard, também questionou os critérios do MDL e sugeriu nesta quinta-feira (26) que novas restrições de qualidade em projetos industriais deveriam ser adotadas depois de 2012.
Todas essas dúvidas sobre a transparência dos negócios na Ásia tornam difícil acreditar que apareça na região um mercado de carbono que realmente funcione para diminuir as emissões e que não seja apenas mais uma ferramenta de lucro e especulação. Mas parece inevitável que em algum momento o mercado de uma forma ou de outra venha a existir.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 26/08/2010)