Um levantamento realizado pelo Instituto do Câncer de São Paulo (Icesp), feito com os 6 mil pacientes que todo mês dão entrada na unidade, mostrou que 35% deles são tabagistas. Deste total, seis em cada 10 não conseguem largar o cigarro mesmo após o diagnóstico, o que compromete a eficácia do tratamento.
Para os especialistas, a resistência reforça que o vício do tabaco é um dos mais difíceis de ser combatido. Para as pessoas que já experimentam a seqüela mais grave do cigarro – o câncer – o hábito de fumar é ainda mais nocivo.
Segundo o Icesp, as substâncias químicas presentes no fumo, dificultam a cicatrização de pessoas submetidas às cirurgias oncológicas, elevam a pressão arterial e fazem com os medicamentos utilizados na quimioterapia tenham efeito reduzido.
“Infelizmente a grande maioria relata dificuldades para abandonar o cigarro, mesmo após receberem o diagnóstico de câncer. Mas é fundamental que essa realidade mude, não só por melhorar a qualidade de vida das pessoas como para ajudar na luta contra a doença”, alerta Frederico Leon Arrabal Fernandes, médico pneumologista do Icesp.
Dia nacional contra o fumo
Os males do cigarro ganharam ênfase esta semana porque na próximo domingo, 29, é celebrado o Dia Nacional de Combate ao Fumo. Diversas sociedades médicas organizaram eventos para, em coro, estimularem a população a abandonar o tabagismo.
A Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, por exemplo, colocou um bloco de pneumologistas na Avenida Paulista, região central de São Paulo, para recolher as bitucas jogadas na calçada da principal via da capital paulista. O slogan da ação é “Tabagismo, vamos varres esta doença”.
Já a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) elegeu como foco principal de seus eventos as mulheres jovens. De acordo com estudo encomendado pela entidade, as meninas já fumam mais do que os meninos na faixa-etária escolar (entre 15 e 18 anos). Foram entrevistados 2.889 estudantes de escolas de São Paulo e 10% deles fumavam, sendo as garotas muito mais presentes nas estatísticas: 61% do sexo feminino e 39% masculino.
A explicação para a vantagem delas nos números de fumantes precoces, acreditam os especialistas, é a publicidade que escolheu as meninas e as mulheres como focos de ações publicitárias. Estudo feito pela Aliança de Controle do Tabagismo (ACT) identificou que a maioria dos estabelecimentos que comercializa cigarro – e expõe cartazes sobre o consumo – tem uma escola de nível fundamental ou médio em um raio de até um quilômetro. Nas casas noturnas e bares, as estratégias publicitárias distribuem necessarie e porta-batom junto com a promoção de produtos fumígenos, diz a pesquisadora dos efeitos da publicidade na dependência química, Ilana Pinsky.
Fumantes nacionais
Os números do Ministério da Saúde com a população adulta apontam que, atualmente, 15,5% dos maiores de 18 anos são fumantes. A série histórica mostra tendência de queda. Em 2006, eram 16,2% e há 20 anos eles já somaram cerca de 30%. Ainda assim, o consenso é de que esta parcela precisa ser ainda mais reduzida para não só diminuir a ocorrência de doenças crônicas – as mortes cardiovasculares são a principal causa de óbito no País – como também atenuar os custos de internação destes pacientes. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 30% do orçamento do Sistema Único de Saúde (SUS) reservado para tratamento oncológico é destinado aos fumantes.
Para convencer mais pessoas a pararem de fumar, a Sociedade Brasileira de Cardiologia preparou um manual sobre os principais benefícios do abandono do vício, alguns sentidos 20 minutos após parar de fumar. Saiba quais são eles:
Benefícios ao parar de fumar
Após 20 minutos: a pressão e a freqüência cardíaca voltam ao normal
Após 8 horas: o nível de monóxido de carbono no sangue normaliza
Após 24 horas: diminui o risco de ataque cardíaco
Após 48 horas: o olfato e o paladar melhoram
Após 72 horas: a capacidade pulmonar aumenta em até 30%
Após 2 semanas: a circulação sanguínea aumenta e caminhar torna-se mais fácil
De 1 a 9 meses após parar de fumar: há um aumento da capacidade física e energia corporal
Após 5 a 10 anos: o risco de sofrer infarto será igual ao de uma pessoa que nunca fumou
(Por Fernanda Aranda, iG São Paulo, 26/08/2010)