O confinamento de gado bovino de corte na fase de terminação (período próximo ao abate) pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) em 17%, como mostra um estudo apresentado recentemente na Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba. Entretanto, apesar das vantagens ambientais do confinamento, a pesquisa indicou que os benefícios econômicos para o produtor não são tidos como certos.
Os dados estão na dissertação de mestrado do economista Matheus Henrique Scaglia Pacheco de Almeida. O pesquisador avaliou, sob o ponto de vista econômico, o confinamento de animais em fase de terminação em cinco propriedades no Centro-Oeste brasileiro. A pesquisa mostrou que as emissões de GEE passaram de 41 quilos (Kg) de gás carbônico (CO2) equivalente por quilo de carne produzida (kg CO2 eq./kg carne) para 33 kg de CO2 eq./kg carne. “Ficou claro também a redução promovida pela melhora no manejo do rebanho”, aponta.
O economista explica os motivos de os benefícios econômicos não serem tidos como certos: “Entre outros fatores, o produtor dificilmente recebe todo o valor de mercado das emissões evitadas a partir da intensificação das atividades, uma vez que o processo de aprovação das chamadas Reduções Certificadas de Emissão (RCEs) é custoso”, declara. “Portanto, a intensificação da propriedade, por meio do confinamento dos animais em fase de terminação, mostrou-se economicamente inviável para a maioria das propriedades, quando comparadas ao sistema extensivo. Outro ponto que contribui para isso é o condicionamento do produtor à variação constante dos custos de mercado como, por exemplo, o preço da matéria prima da ração animal”, esclarece o pesquisador.
De acordo com o último senso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2006), o rebanho brasileiro soma cerca de 169,9 milhões de cabeças, espalhadas em mais de 170 milhões de hectares com pastagens. No Brasil, a pecuária bovina se caracteriza pelo sistema extensivo de produção, o que intensifica impactos ambientais como a destruição de biomas como o cerrado e a Amazônia, a degradação do solo e a emissão GEE.
Os gases emitidos por esta atividade são principalmente o metano (CH4), gerado pela fermentação entérica e pelas fezes do animal, e o óxido nitroso (N2O), proveniente das fezes. Em solo brasileiro, esta atividade é a segunda principal emissora de GEE, perdendo apenas para o desmatamento.
O estudo de Almeida apresentou também as mudanças nas emissões de GEE – desde a produção do alimento até o animal estar pronto para o abate – decorrentes do confinamento, de acordo com a metodologia do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC).
Ambiente X economia
Especialistas apontam que uma das formas de mitigar os impactos ambientais da pecuária bovina é a intensificação da produção por meio da melhora da qualidade do alimento fornecido aos animais. No caso particular das emissões de GEE isto ocorre porque melhora o processo ruminal e diminui o tempo de vida do animal.
“No entanto, para produtores do setor, o fato de modificar o sistema, ou seja, promover a intensificação da produção bovina em benefício ambiental não necessariamente significará uma vantagem econômica”, afirma o economista.
A pesquisa de Almeida foi apresentada no último dia 07 de maio ao Programa de Pós-graduação em Economia Aplicada da Esalq sob a orientação do professor Joaquim Bento de Souza Ferreira Filho, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES).
(Por Caio Albuquerque, Envolverde/Agência USP de Notícias, 25/08/2010)