Quatro meses depois do início do vazamento de petróleo no golfo do México, a areia de quartzo da praia de Panama City, na Flórida, permanece "branca como açúcar", como dizem os moradores.
Apesar de sua costa intocada pelo vazamento, a cidade calcula os prejuízos da temporada de verão que chega ao fim no hemisfério norte.
Mesmo sem ter sido afetada diretamente pelas manchas de petróleo que invadiram outras áreas do litoral da região, Panama City acabou atingida pelo temor dos turistas, que evitaram viajar a qualquer lugar relacionado ao vazamento.
Segundo Dan Rowe, presidente do Convention & Visitors Bureau, que coordena a área de turismo da cidade, no mês de junho --o último com dados disponíveis-- a arrecadação de taxas pagas pelos hóspedes por cada diária nos hotéis de Panama City, que costumava aumentar ano a ano, foi 3,1% menor do que a do mesmo mês do ano passado.
Rowe disse que o único sinal de petróleo avistado na praia foram algumas manchas de piche esparsas, que surgiram ainda em junho, e logo em seguida desapareceram.
No entanto, as constantes imagens do vazamento transmitidas pela TV, aliadas à menção geográfica da costa do golfo do México, acabaram influenciando turistas, que decidiram reprogramar suas férias para destinos considerados menos arriscados.
"Tivemos de lutar contra a percepção dos turistas de que a praia foi afetada. Isso foi um problema maior do que o vazamento de petróleo em si", diz Rowe.
TEMPORADA
A praia de Panama City é a maior atração do chamado Panhandle da Flórida, região situada no oeste do Estado, na divisa com a Geórgia e o Alabama.
Essa região guarda mais semelhanças culturais e históricas com o sul dos Estados Unidos do que com a Flórida peninsular e é famosa por suas praias de areias brancas, que atraem principalmente famílias em período de férias escolares.
O ponto alto da temporada são os meses de junho e julho, que respondem por 40% da receita do ano.
O vazamento --iniciado em 20 de abril, quando uma plataforma operada pela petroleira britânica BP explodiu e afundou no Golfo do México-- chegou no início da temporada.
"Nossa temporada dura cem dias. O vazamento nos atingiu imediatamente antes da temporada", afirma Pam Anderson, diretora de operações da Captain Anderson's Marina, que aluga barcos para pesca recreativa.
PESCA
No início de julho, as águas federais (além de 9 milhas náuticas) na região de Panama City foram fechadas para a pesca, impossibilitando a ida dos barcos para águas profundas e afetando não só o negócio de aluguel de barcos, mas o próprio suprimento de frutos do mar que, se não ficaram em falta, tiveram seus preços aumentados nos restaurantes locais.
A marina comandada por Anderson tem 25 barcos que transportam até 20 pessoas e outros cinco, maiores, com capacidade para 60 passageiros.
O vazamento, no entanto, afetou até mesmo a quantidade de embarcações recreativas disponíveis, já que a petroleira BP alugou barcos de marinas da região para auxiliar nos trabalhos de limpeza da mancha de óleo.
"Houve um momento em que apenas seis dos barcos menores e dois dos maiores não estavam sendo usados pela BP", diz Anderson.
Além disso, o fechamento das águas federais criou desconfiança a respeito da segurança e qualidade dos frutos do mar da região, afastando a clientela dos restaurantes locais.
"Muitas pessoas ficaram com medo de comer frutos do mar", diz Mike Bennett, proprietário do hotel e restaurante Sea Haven.
O vazamento também chegou no momento em que a região esperava finalmente se recuperar dos danos causados pela crise econômica mundial.
"Este era para ser o ano em que iríamos quebrar recordes em faturamento", diz Rowe.
"Eu comparo (o vazamento) com um furacão", diz Pam Anderson. "Com a diferença que um furacão, vem, faz o estrago, e vai embora. Então você se levanta e recomeça. Mas neste caso, estamos vivendo um furacão há cem dias."
CAMPANHA
Apesar do impacto negativo do vazamento de petróleo sobre a economia da cidade, Rowe e alguns comerciantes e proprietários de estabelecimentos com quem a reportagem da BBC Brasil conversou afirmaram que o estrago poderia ter sido ainda pior, caso a comunidade não houvesse se mobilizado.
Em determinado momento, quando ainda se temia que a praia fosse realmente atingida pela mancha de petróleo, chegou a se estimar uma queda de 20% na arrecadação dos hotéis.
"Em junho, não era uma questão de se o petróleo ia chegar aqui, mas de quando ia chegar", diz Rowe.
Para combater o temor dos turistas e convencer as famílias de que a cidade era um destino seguro foram lançadas diversas campanhas ao longo deste verão.
Uma das iniciativas foi oferecer a garantia de que, caso o petróleo afetasse as férias na cidade, o turista receberia seu dinheiro de volta ou crédito para uma visita futura. Também começaram a ser aceitos cancelamentos de reservas de última hora, para dar mais tempo aos visitantes de decidir sobre a viagem.
Cartões de presente no valor de US$ 25 foram distribuídos aos turistas, como sinal de agradecimento por sua visita. Outra campanha colocou fotos diárias da praia, mostrando a água limpa naquele dia, em painéis eletrônicos de cidades da região.
"Em vez de competir uns com os outros, os comerciantes e proprietários de estabelecimentos de lazer se uniram para trazer os turistas", diz Felicia Robinson Cook, diretora do Pier Park, um centro comercial que reúne 220 lojas, restaurantes e outros estabelecimentos.
Segundo Rowe, esse esforço evitou que a cidade sofresse prejuízos ainda maiores. O esforço, diz ele, deve continuar mesmo após o fim da temporada de verão.
"Ainda vamos ter de lidar com os efeitos do vazamento por um bom tempo."
(Folha Online, 25/08/2010)