Os cientistas do IPCC (painel de mudanças climáticas da ONU) devem ser mais ágeis para destacar as tendências do aquecimento global e consertar seus próprios erros, afirmam especialistas diante do lançamento do relatório de revisão do trabalho do grupo, que deve ser divulgado em 30 de agosto.
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu uma investigação independente do IPCC após virem à tona uma série de erros do grupo. Entre eles, as afirmações de que as geleiras do Himalaia poderiam estar completamente derretidas até 2035 e números exagerados sobre o nível do mar na Holanda.
"É uma crise embaraçosa, mas tem sua utilidade", afirmou Hans Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto Potsdam de Pesquisa dos Impactos do Clima, que não participa da investigação.
Schellnhuber e outros especialistas afirmaram que o painel da ONU --que orienta várias políticas de governo sobre mudanças climáticas e em 2007 dividiu o prêmio Nobel com o ex-vice-presidente americano Al Gore-- poderia ter um papel maior em impedir eventos naturais extremos, como as enchentes no Paquistão e as ondas de calor na Rússia.
"É preciso que haja mais avaliações em tempo real do clima", afirmou Kevin Trenberth, chefe de análises climáticas do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica dos EUA.
Ele sugere mudanças no atual formato do relatório, que classificou de "atrapalhado".
"É uma espécie de bíblia escrita a cada sete anos. Seria melhor ter relatórios menores, mais atualizados. Isso não impediria que houvesse uma publicação principal em 5, 6 ou 7 anos", afirmou Schellnhuber.
O último relatório do IPCC saiu em 2007 e o próximo está previsto para 2013-14.
O grupo de revisão, liderado pelo ex-presidente da Universidade Princeton Harold Shapiro, irá apresentar suas recomendações de melhorias no IPCC para o secretário-geral Ban Ki-moon em 30 de agosto.
Uma das preocupações dos especialistas é a demora do painel para corrigir os erros. O grupo levou meses para consertar as informações sobre o Himalaia, o que aumentou a percepção de que o IPCC era insensível às críticas.
Os especialistas também criticaram os métodos de trabalho do painel. Segundo eles, é preciso que haja maior rigor científico nos documentos que são levados em consideração.
(Folha Online, 24/08/2010)