No último sábado os australianos foram às urnas para eleger o novo governo e a realidade nesse país parece semelhante ao que poderemos ter aqui no Brasil em outubro. Nenhum dos dois partidos principais conseguiu maioria e agora disputam o apoio do Partido Verde que pela primeira vez elegeu um membro para a Câmara de Representantes e conquistou nove assentos no Senado.
A imprensa australiana impõe aos Verdes, que conquistaram 11,5% dos eleitores, um poder influente na nova formação do governo, demonstrando que a população está sim preocupada com as questões a cerca das mudanças climáticas.
“O resultado da eleição pode ajudar a tirar a política de poluição australiana do atoleiro de campanhas amedrontadas, paranóia e enganação dos principais partidos e grandes poluidores”, enfatizou John Connor, CEO do The Climate Institute.
No final do seu mandato o ex-primeiro ministro trabalhista australiano Kevin Rudd decidiu adiar os trabalhos para a aprovação de um projeto de lei que criaria um esquema de comércio de emissões após enfrentar dura oposição. Porém, muitos alegam que Rudd perdeu apoio da população por ter abandonado as políticas para redução das emissões de gases do efeito estufa (GEEs).
De acordo com a ONG The Tree Hugger Rudd também perdeu apoio devido ao fracasso de várias outras políticas ambientais, como o isolamento térmico de 2,7 milhões de residências, que era uma das suas bandeiras na campanha eleitoral e perdeu investimentos com o avanço da crise financeira global.
O Partido Verde australiano defende a implantação de uma taxa de A$ 23 por tonelada de dióxido de carbono e uma meta de 100% de energias renováveis em longo prazo, alegando que o projeto de lei dos trabalhistas para criação de um esquema de comércio de emissões é muito fraco.
Sob a liderança contínua de Bob Brown, os Verdes agora têm o poder do equilíbrio no Parlamento e são o terceiro maior partido político do país.
O diretor executivo da ONG The Australia Institute Richard Denniss disse ao jornal australiano The Age que o partido Trabalhista e a Coalizão (Partidos Liberal e Nacional) perderam votos por não terem tido coragem o suficiente de lidar com questões grandes, se atendo a debates menos importantes.
“A Austrália é abençoada com políticos honestos e trabalhadores, mas somos amaldiçoados com um sistema parlamentar moribundo que se esconde das grandes questões como mudanças climáticas e distribuição de renda”, comentou Denniss.
Nos próximos dias a primeira ministra trabalhista Julia Gilliard, o chefe da oposição Tony Abbot, três membros do parlamento independentes e um do Partido Verde discutirão a formação do próximo governo.
“Os independentes, equilibrados, parecem apoiar ação sobre as mudanças climáticas”, comentou o Deutsche Bank em uma nota divulgada pela Reuters.
“Combinados com a pressão dos verdes na posse do equilíbrio no Senado a partir de julho do próximo ano, há uma possibilidade que um esquema de comércio de emissões seja acelerado sob um governo de minoria trabalhista”.
(Por Fernanda B. Müller, CarbonoBrasil, 24/08/2010)