O que era prática comum na Aracruz continua a acontecer na sucessora Fibria. Trabalhadores que sofrem de problemas de saúde decorrentes do trabalho veem sendo sistematicamente recusados pedidos de afastamento, enquanto outros ainda são demitidos por moverem ações judiciais contra a companhia justamente em função do não atendimento de seus pedidos de afastamento.
Este é o caso do trabalhador Wilton Correia Braulino, que é mais um dentre tantos. Ele atua na empresa na função de operador no apoio de colheita e opera máquinas de vibração no corpo inteiro. O uso contínuo do equipamento provoca lesões no ombro e na coluna. Não suportando mais as dores, o funcionário procurou ajuda médica e pediu afastamento da empresa. Seu médico particular atestou que ele sofre de osteoartrose vertebral, com lesão discal lombar em L5-S1, que gera dor bilateral e impossibilita o exercício de suas funções.
Munido do laudo do médico, o trabalhador foi encaminhado à perícia da empresa, que constatou, para sua surpresa, que ele estava apto para o trabalho. O trabalhador então marcou uma perícia na Agência da Previdência Social (APS), em Vitória, e contou como foi o atendimento, ocorrido nesta quinta-feira (19). “A médica perita não me examinou, eu entrei na sala, ela pegou meus laudos, me pediu licença, saiu da sala e quando voltou me disse que eu estava apto a trabalhar”. O trabalhador está visivelmente lesionado, andando com muita dificuldade e mal consegue se mexer.
Agora, Wilton vai interpor um Pedido de Reconsideração ou Recurso à Junta de Recursos para Previdência Social. No entanto, ficará sem receber seu salário durante o período de tramitação do recurso. Ele teme ser demitido da empresa assim que retornar do afastamento.
Em matéria do jornal Brasil de Fato, veiculada em novembro de 2009, a médica do trabalho Denise Rosindo Bourguignon contestou a alegação da empresa, de que os problemas de saúde dos trabalhadores seriam congênitos. Ela já foi procurada por dezenas de trabalhadores com os mesmos tipos de lesão e observou que há coincidência em transtornos de ombro em operadores florestais (aqueles que trabalham na colheita do eucalipto).
Ainda na entrevista, a médica contou que aconteceu uma visita técnica à empresa, mas o que se vistoriou foi o equipamento e não o posto de trabalho. Além disso, a Previdência Social aceitava, inicialmente, os pedidos de afastamentos e aposentadorias em função de doença do trabalho, mas depois que a empresa pediu a mudança do reconhecimento a Previdência acatou e mudou o atendimento aos lesionados.
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(Por Lívia Francez, Século Diário, 23/08/2010)