Operações ocorreram sob supervisão de agência da ONU; para EUA, reator não oferece "risco de proliferação"
A Rússia, que construiu a central, prometeu impedir que o material radioativo seja usado na construção de bombas
Sob os olhares de inspetores da AIEA (agência nuclear da ONU), engenheiros russos e iranianos começaram ontem a abastecer a primeira usina nuclear do Irã, em Bushehr, sul do país.
Moscou prometeu cuidar para que o material radiativo não seja usado na construção de armas.
Ontem, um caminhão carregado de urânio despejou a carga no interior da usina. Nas próximas duas semanas, 80 toneladas do combustível serão usadas no processo.
No entanto, ainda levará dois meses para que o reator de 1.000 megawatts (em Angra 2, são 1.350 MW) comece a distribuir energia para cidades iranianas.
Embora o chefe da agência nuclear iraniana, Ali Akbar Salehi, tenha dito que o reator em Bushehr só será usado pacificamente, ele o celebrou como "um símbolo da resistência iraniana" em face à pressão externa.
"Apesar de toda a pressão, sanções e dificuldades impostas por nações ocidentais, nós agora estamos vivenciando o início do maior símbolo das atividades pacíficas nucleares do Irã", disse.
Israel, que detém a vantagem estratégica de ser a única potência nuclear do Oriente Médio, disse que o reator iraniano é "totalmente inaceitável" e cobrou mais pressão internacional para forçar Teerã a encerrar o enriquecimento de urânio.
Mas os EUA não se mostraram preocupados. "Reconhecemos que o reator de Bushehr foi projetado para proporcionar energia nuclear civil e não o vemos como um risco de proliferação", afirmou um porta-voz do governo americano.
Os EUA e Israel não descartam ações militares para impedir que Teerã crie armas nucleares. O Ocidente suspeita que o país persa planeje construir bombas atômicas a partir do seu programa nuclear civil, o que Teerã nega.
Também ontem, o presidente Mahmoud Ahmadinejad prometeu, em entrevista a um jornal do Qatar, uma "resposta em escala planetária" caso o país seja atacado.
"Nossas opções não terão limites. Englobarão todo o planeta", afirmou o presidente iraniano.
O iraniano também pediu a volta das negociações com Brasil e Turquia sobre a troca de combustível nuclear.
(Folha de São Paulo, 22/08/2010)