Levantamento constata descaso com tratamento de resíduos sólidos; coleta seletiva só é adotada em 18% dos municípios
Mais de 70% das cidades brasileiras despejam lixo em locais que não são adequados: vazadouros a céu aberto e aterros controlados. Somente 27,7% dão o destino correto aos resíduos sólidos, em aterros sanitários. A forma mais irregular de destinação, os lixões, foi a que menos cresceu nos últimos oito anos, mas ainda é a opção de cinco em cada dez prefeituras (50,8%).
Entre os municípios com serviço de coleta, o uso dos lixões foi maior nos Estados das Regiões Nordeste e Norte (89,3% e 85,5%). O Estado que mais usa este destino é o Piauí (97,8%), seguido por Maranhão (96,3%) e Alagoas (96,1%). Os Estados que apresentaram menor proporção de municípios que usam lixões são os das Regiões Sul e Sudeste (15,8% e 18,7%).
Embora a opção que mais tenha crescido entre os municípios tenha sido os aterros sanitários, o avanço ainda é muito pequeno. Há 21 anos, apenas 1,1% das cidades usava este tipo de local. Em 2000, aumentou para 17,3% e em 2008, para 27,7%.
"É um absurdo o País ter mais de 70% das cidades sem o condicionamento adequado", afirmou o diretor do Núcleo Interdisciplinar em Meio Ambiente (Nima) da PUC-Rio, o geógrafo Luiz Felipe Guanaes Rêgo. "Despejar lixo em vazadouros polui o lençol freático, entope e provoca o assoreamento dos rios. Para as cidades, entope o sistema de drenagem, além de outras consequências. Ou seja, além de ser um problema para o meio ambiente, afeta a saúde pública. O investimento em aterros sanitários deveria ser prioridade em termos de políticas públicas."
A pesquisa apontou, também, para a existência de catadores de lixo em 27% das cidades que faziam coleta em 2008.
Dos 5.564 de municípios brasileiros, apenas 994 faziam coleta seletiva de seu lixo em 2008 - 17,86% do total. O gerente da pesquisa, Antonio Tadeu de Oliveira, admitiu que o número, se comparado com outros países, é pequeno. "Mas podemos notar que, na pesquisa anterior, realizada em 2000, detectamos que apenas 451 municípios realizavam coleta seletiva", disse.
Economia."O poder público e a sociedade têm de se conscientizar que o produto reciclado é bom para a economia como um todo", emendou Rêgo. "As pessoas se sentem bem quando põem o lixo para fora de casa, mas não pensam no que esses resíduos mal aproveitados podem causar para o meio ambiente e os custos disso. Lixo é insumo, é energia."
Outra preocupação trazida pela pesquisa foi o que as cidades fazem com os resíduos hospitalares. Quatro em cada dez cidades brasileiras despejam esses resíduos em lixões. A Região Nordeste é a que menos faz o controle, destinando 70% do lixo hospitalar para vazadouros. A Região Sul é a que mais se preocupa, destinando 64% dos resíduos para aterros sob controle.
(Por Gabriela Moreira, O Estado de S.Paulo, 22/08/2010)