Líder absoluta em biotecnologia para a agricultura no Brasil na última década, a Monsanto mantém a aposta na inovação para continuar no topo no momento em que os produtos dos competidores começam a ganhar o mercado nacional, após recente aceleração das aprovações de transgênicos no país.
A multinacional norte-americana espera responder à concorrência com o lançamento, na safra 2012/2013, de uma soja inédita no mundo, com uma tecnologia de genes combinados que oferecem resistência ao glifosato de segunda geração e a insetos.
"Somos uma empresa de tecnologia, é como o Steve Jobs criando o iPad, se ele não criar um a cada dois anos, alguém vai chegar mais junto deles (da Apple)...", afirmou André Dias, presidente da Monsanto no Brasil, em entrevista à Reuters.
"A nova soja, que estamos provisoriamente chamando de Bt RR2... vai ser a primeira tecnologia combinada da cultura, inclusive nos EUA não tem", declarou o executivo, de 42 anos, que assumiu o cargo em 2008 após passar por vários postos na companhia, na Ásia e nos EUA.
A soja é a principal cultura anual do Brasil, respondendo por cerca de metade da área plantada com grãos e oleaginosas, e na nova safra (2010/11), semeada a partir de setembro, consultorias independentes estimam que o total de transgênicos crescerá para três quartos do total plantado.
"Diria que a gente vê isso (a nova soja) chegando no mercado no verão de 2013... atingindo um grande número de hectares, e o desenvolvimento foi feito todo no Brasil", ressaltou Dias, salientando que o "dossiê" da nova soja foi submetidos à CTNBio em junho de 2009.
Dessa forma, a cultura da soja que impulsionou desde o início os negócios da companhia no Brasil, o segundo país para o faturamento da Monsanto atrás dos EUA, poderia ser também um dos trunfos da empresa para competir com os concorrentes nos próximos anos.
A soja transgênica que sozinha domina a lavoura brasileira até hoje é a Roundup Ready (RR), da Monsanto, que chegou ao Brasil primeiro contrabandeada da Argentina, no início da década. E foi cultivada por cerca de cinco anos antes de ser aprovada pela CTNBio, o órgão regulador no Brasil.
Apenas no final do ano passado e início de 2010 outras empresas obtiveram a aprovação da CTNBio de variedades de soja: a Basf, em parceria com a Embrapa, e a Bayer. Tais produtos só devem ser lançados comercialmente nos próximos anos.
MILHO E ALGODÃO
Outros trunfos da companhia, com receita bruta de 3,6 bilhões de reais no Brasil em seu último ano fiscal, aumento de quase 1 bilhão ante o período anterior, são as sementes de milho e algodão engatilhadas para chegar ao mercado.
Para 2010/11, a Monsanto colocará à disposição dos produtores o milho chamado YieldGard VT Pro, resistente a insetos, enquanto visualiza para breve o lançamento comercial do milho com genes combinados "stack" (resistente a insetos e a herbicidas) já aprovado pela CTNBio.
Mas para o milho, cujos híbridos transgênicos só começaram a ser aprovados no Brasil a partir de 2007, a concorrência tende a ser maior do que no setor de soja. Além do produto da Monsanto já há outros no mercado.
A adoção da tecnologia do milho, aliás, salientou Dias, ocorreu mais rapidamente do que a soja, até porque as empresas tiveram mais condições de trabalhar com sementes adaptadas às condições climáticas e de solo do Brasil, diferentemente do que ocorreu com a soja -as primeiras, conhecidas como "Maradona", tinham características adequadas à Argentina.
"Na soja, o processo de introdução foi atabalhoado, nós só conseguimos fazer pesquisa no Brasil a partir de 2004 e 2005", disse ele, observando que o milho transgênico apresentou resultados mais rapidamente no país.
Prova disso é que, segundo a consultoria Céleres, os transgênicos de milho com três anos de aprovação ocuparão na safra de inverno (safrinha) em 10/11 cerca de 75 por cento do plantio, mesmo patamar previsto para ser alcançado pela soja geneticamente modificada na mesma temporada.
O novo milho da Monsanto (YieldGard VT Pro), lançado para 10/11, poderá apresentar produtividade 10 por cento superior ao híbrido convencional, contra ganhos de 8 por cento do YieldGard, indicou Dias. Com dois genes, o VT Pro, um produto de segunda geração, tem uma ação mais ampla contra as lagartas.
Mas o salto tecnológico no campo do milho no Brasil será a semente com resistência combinada a insetos e a herbicidas, cuja tecnologia também já foi aprovada para o algodão, mas aguarda um aval da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), segundo a Monsanto.
A média de produtividade do milho no Brasil ainda tem muito a crescer, com os novos eventos transgênicos, segundo a indústria, sendo menos da metade da obtida nos Estados Unidos, o maior produtor mundial, que usa a tecnologia há mais tempo.
"Um dos grandes pulos do gato é justamente o RR" combinado com resistência a insetos, afirmou ele, destacando que a empresa também apresentará à CTNBio, no próximo ano, um algodão que permite uma "janela" maior para aplicação de herbicida.
CANA
No longo prazo, a empresa espera obter produtos tolerantes à seca, no caso do milho, o que seria fundamental para o cultivo na segunda safra do Centro-Oeste e que permitiria o plantio em grande escala no Nordeste, além de trangênicos de cana-de-açúcar e outras variedades de soja mais produtivas.
Após aquisições de várias empresas de sementes de milho e algodão nos últimos anos e da compra da Alellyx e CanaVialis, Dias afirma que o foco da companhia é no desenvolvimentos das plataformas tecnológicas. "No momento, temos tanto para fazer com o que a gente já tem na mão, que acho que prestar atenção em oportunidades de aquisição não está no nosso escopo."
Com as plataformas da Alellyx e CanaVialis, que receberam os conhecimentos em biotecnologia da Monsanto, a empresa espera lançar a sua primeira cana transgênica em 2020, em meio a investimentos anuais para todos os produtos de mais de 100 milhões de dólares.
Mas se a nova cana ainda vai demorar, ela já chegaria resistente a herbicidas e tolerante a insetos, segundo o presidente da Monsanto. "A gente está aprendendo com cana, é uma planta muito diferente de soja, com um número de cromossomos muito maior, estamos começando a aprender como faz para introduzir um evento, mesmo que seja conhecido, que já tenha sido usado em milho e em soja, é diferente na cana."
(O Globo, 20/08/2010)