Um ecossistema único no Brasil, que chega a representar 2% do território brasileiro e que nem sempre ganha a mesma atenção que outros biomas existentes no País. Formado principalmente por pastagens naturais, o bioma Pampa, encontrado exclusivamente no Rio Grande do Sul, é o objeto de estudo do professor do Centro de Ciências Rurais da Universidade Federal de Santa Maria (Ufsm), Fernando Luiz Ferreira de Quadros.
Diferentemente de outras regiões, onde a prática da agropecuária durante o período da colonização exigia o plantio de espécies exóticas advindas da África, no Estado o recurso vegetal era natural e abundante. A situação, que ainda compõe campos gaúchos, tem um importante papel na preservação do ambiente e na economia local. "No entanto, em função de esse recurso ser natural e não produzido, o nível de utilização que ele pode sofrer não é tão elevado quanto o dos sistemas cultivados pelo homem", aponta Quadros.
E é exatamente na avaliação do limite de utilização das pastagens naturais, bem como na busca por alternativas para seu manejo, que se concentram os esforços do pesquisador. Em um ecossistema composto por inúmeras espécies - somente entre as gramíneas, principal grupo estudado, são mais de 500 tipos diferentes -, Quadros e sua equipe analisam o comportamento desses vegetais para que os produtores garantam a rentabilidade de seus negócios de maneira sustentável.
O especialista lembra que alguns anos atrás um levantamento da Farsul, em conjunto com o Senar e o Sebrae, identificou que 70% da superfície usada para pecuária no Estado era formada por pastagens naturais. "Isso dá uma ideia da relevância econômica de manejar de forma adequada esse recurso", aponta Quadros. E a mesma diversidade encontrada nessa longa área, que faz o gado do Rio Grande do Sul ter características especiais em função da alimentação diferenciada e equilibrada, torna, também, mais complicado o cuidado com a vegetação e com o solo.
A implantação da proposta surgiu de um modelo adotado da Europa, conhecido por Quadros durante a realização de seu pós-doutorado na França, em 2005. O trabalho, adaptado às condições regionais, está consistindo no enquadramento das espécies em quatro grandes grupos. Um dos entraves alegado pelo professor está na capacidade de lotação das pastagens, tópico que passa, hoje, pela avaliação sobre a possibilidade de ampliação.
"Os produtores usavam essa pastagem como uma espécie de recurso de manutenção do capital, para eles quanto mais animais no local mais patrimônio eles teriam." O professor explica, porém, que a superlotação leva a uma utilização descontrolada da pastagem.
Mesmo que ainda em fase de testes, o resultado da aplicação do agrupamento nas propriedades pode ser considerado positivo. De acordo com Quadros, os produtores que adotam a metodologia estão verificando um aumento no volume de animais criados por área, em relação aos procedimentos instalados anteriormente. Enquanto os produtores alcançam a comercialização de 70 kg a 90 kg de peso vivo por hectare, o objetivo do estudo é chegar a uma produção de até 300 kg.
Resultados do trabalho são obtidos com esforços conjuntos
O trabalho realizado pelo professor da Ufsm não é obra de um homem só. Uma das qualidades atribuída por ele à pesquisa é a coletividade. Além de Quadros, 12 estudantes em diferentes níveis acadêmicos acompanham o estudo, que também conta com a colaboração de outras instituições, como o laboratório de ecologia da Embrapa e o Grupo de Ecologia de Pastejo da Ufgrs. O especialista revela que sua atuação é gratificante, não apenas pelo ponto de vista ecológico, mas por permitir a integração dos diferentes atores que podem incidir positivamente no ambiente rural. "O estudo me permite trabalhar junto com estudantes em formação, agrônomos, veterinários, além de produtores", relata. "Estamos trabalhando esse conhecimento e contribuindo de forma coletiva", completa.
De acordo com Quadros, embora a coleta das informações seja recente, existe interesse crescente na aplicação do método averiguado. Dados mais antigos são disseminados e testados nas propriedades e monitorados por técnicos do Senar e Sebrae. Além disso, sindicatos rurais têm buscando meios de atrair para suas regiões o método, a fim de levar aos produtores um modo mais fácil de manejar suas pastagens.
Somente da região da Bacia do Camaquã são 12 as propriedades que aderiram ao modelo. E enquanto puderem expandir a atuação, é isso o que a equipe fará, sempre visando ao crescimento econômico sem agredir a natureza e preservando o bioma Pampa. "Para o meio ambiente essa é uma possibilidade importante de manter uma biodiversidade que é característica da nossa região, com um valor inestimável do ponto de vista do patrimônio genético", sintetiza o pesquisador.
(JC-RS, 20/08/2010)