Há farta literatura mostrando não só que a publicidade de cigarros é mais presente em pontos de venda frequentados por jovens como também que a exposição dos adolescentes a essas mensagens contribui para a decisão de começar a fumar.
Num estudo publicado em 2004 no periódico "Tobacco Control", pesquisadores da Universidade Stanford liderados por Lisa Henriksen visitaram 50 lojas que vendem tabaco na cidade de Tracy, na Califórnia, e contaram itens como anúncios, espaço de exposição do produto e materiais de marketing.
Simultaneamente, entrevistaram alunos da 5ª à 8ª séries para descobrir quais eram os pontos que eles mais frequentavam. As lojas preferidas pelos adolescentes tinham 3,4 vezes mais material promocional de tabaco do que as demais.
Num outro trabalho, que saiu neste ano em "Pediatrics", os mesmos pesquisadores reuniram 1.681 adolescentes entre 11 e 14 anos que jamais haviam fumado e os acompanharam por um período de 30 meses.
Após um ano, 18% dos jovens haviam começado a fumar, mas a incidência era muito maior (29%) entre os que frequentavam pontos de venda pelo menos duas vezes por semana do que entre os que o faziam menos de duas vezes por mês (9%). Associações similares foram observadas após 30 meses.
Os pesquisadores também contaram o número de estímulos publicitários a que os jovens eram submetidos semanalmente, dependendo da assiduidade com que iam às lojas e da quantidade de material de marketing nelas presente.
As chances de ter começado a fumar eram 2,36 vezes maiores no grupo mais exposto à propaganda.
Vários outros estudos de diversos países apontam para conclusões semelhantes.
EMBALAGENS
Outro aspecto da indústria do tabaco que tem atraído a atenção dos pesquisadores são as embalagens. Há trabalhos mostrando que elas são desenhadas especificamente para seduzir os jovens.
A julgar pelo que se pesquisa, as próximas medidas no controle do tabagismo deverão ser o banimento dos cigarros para trás do balcão e a adoção de embalagens genéricas. Em suma, cigarros começarão, enfim, a ser tratados como uma droga.
(Por Hélio Schwartsman, Folha de São Paulo, 20/08/2010)