O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, criou uma saia-justa ao atacar o fumo durante o Congresso da Associação Nacional dos Jornais (ANJ), que tem como um dos três patrocinadores a Souza Cruz, empresa de cigarros.
Em um salão de hotel na Barra da Tijuca intitulado "Auditório Souza Cruz", ele lembrou que proibiu a propaganda de cigarros em meios de comunicação no período em que foi ministro da Saúde, no governo Fernando Henrique Cardoso.
Serra discursava sobre liberdade de imprensa, quando espontaneamente passou a tratar do assunto, ao comentar supostas tentativas do governo Lula de controle da imprensa. Antes de falar sobre fumo, falava do controle econômico de meios de comunicação - por meio de verbas de publicidade pública.
"Levei adiante o fim da publicidade do cigarro, por causa da mortalidade e da qualidade de vida. Proibi a propaganda que, em sua essência, era enganosa. Depois proibi a possibilidade de se fumar dentro de um ambiente fechado", afirmou Serra.
Falando ao púlpito, o candidato tucano tinha atrás de si dois enormes logotipos da Souza Cruz.
Apesar disso, falou por cerca de três minutos contra o cigarro, sem se dar conta.
"Fui uma das crianças que mais fumaram no mundo. Dormia boa parte dos dias na sala dos vizinhos, ou da minha avó, com o pessoal jogando cartas. Meus avós, tios, havia sempre uma nuvem de fumaça branca. É possível que minha rejeição ao cigarro venha dessa época", afirmou.
(Por Raphael Gomide e Samia Mazzucco, iG Rio de Janeiro, 19/08/2010)