A Polícia Federal realizou ontem a Operação Acuti, para combater a extração, o transporte e a venda ilegal de madeira da mata nativa brasileira, sobretudo da região amazônica, que se encontra em risco de extinção. A ação, com o cumprimento dos mandados de prisão e de busca e apreensão, ocorreu em Três Cachoeiras, no Litoral Norte, e em Marabá (PA), Sombrio e Jacinto Machado (SC). Quatro pessoas foram presas e uma quinta permanecia foragida. A operação resultou na apreensão de cerca de 50 metros cúbicos de madeira em Marabá, onde a derrubada de castanheira parece estar disseminada. Na segunda-feira, os agentes do Ibama descobriram esquema para extração e venda da madeira dentro de assentamento do Incra no município. Cinco pessoas foram flagradas derrubando e transportando as árvores, sendo lacradas três serrarias e apreendidos três caminhões e 453 metros cúbicos de madeira.
O principal alvo de extração da quadrilha desmantelada ontem pela PF era a castanheira, cuja semente, a castanha-do-pará, é muito conhecida. A madeira extraída dessa árvore, com o corte proibido por lei, abastecia uma empresa especializada na fabricação de carrocerias de caminhões situada em Três Cachoeiras, conhecida como ponto de encontro de caminhoneiros. O dono dessa empresa, um gaúcho preso na cidade, foi apontado como o líder do grupo. As outras três prisões foram registradas em Marabá, incluindo um motorista catarinense de caminhão e o dono da madeireira que cortava os troncos da castanheira na forma de pranchas para o transporte por via rodoviária.
As investigações começaram em abril deste ano, na Delegacia de Repressão a Crimes contra o Meio Ambiente da Polícia Federal, em Porto Alegre, sob o comando do delegado Alexandre Quevedo Ribeiro, após ser acionada pelo Ibama. Ao longo do trabalho investigativo, os policiais federais apreenderam documentos falsos, como guias de transporte, licenças e notas fiscais, que serviam para dar uma "legalidade" no transporte em caso de alguma blitz na estrada. Cerca de 100 metros cúbicos de madeira de castanheira e dois caminhões empregados no transporte também foram recolhidos no período. Um desses veículos, carregado com a madeira, tombou em Minas Gerais, enquanto o outro, também com a carga, foi interceptado no Pará.
José Antônio Dorneles de Oliveira, responsável pela Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado da PF, não descarta novas prisões, pois existem mais envolvidos que serão intimados a depor. Ele calcula que havia mais de um ano a quadrilha vinha desmatando a Floresta Amazônica e trazendo a madeira para a fábrica de carrocerias de caminhões no RS. A mesma servia para a produção de pequenos barcos em Santa Catarina.
O nome da Operação Acuti foi inspirado na palavra tupi-guarani "Akuti", que significa o animal roedor conhecido como cutia, responsável por dispersar a semente no ambiente natural. A castanheira está incluída na lista vermelha da organização União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (Iunc), com sede na Suíça. A Operação Acuti teve a participação de 34 policiais federais e servidores do Ibama.
(Correio do Povo, 19/08/2010)