Que tal ir ao trabalho ou à universidade de bicicleta? Ou quem sabe usar a bicicleta para ir até o shopping fazer compras? Essa é a nova tendência mundial que está invadindo as ruas das principais cidades do mundo. A bicicleta que sempre foi utilizada mais para diversão e lazer do que como meio de transporte, agora está assumindo uma nova função: começa a substituir os veículos de passeio e o transporte coletivo, pelo menos em parte dos trajetos urbanos. Segundo o presidente do Centro de Transporte Sustentável (CTS-Brasil), Luís Antonio Lindau, existe um movimento mundial para fazer da bicicleta um meio de locomoção mais usual. Este movimento é bastante forte principalmente em países da Europa, onde é maior a preocupação com o ambiente, como Noruega, Dinamarca, Suécia, Holanda, Inglaterra e França.
Lindau destaca que a bicicleta, além de ter a vantagem de não emitir poluentes, é um importante aliado no combate ao sedentarismo. “O tabagismo caiu em várias partes do mundo. No entanto, a obesidade cresceu. O uso da bicicleta vai ajudar a combater este problema, que já é muito sério em alguns países”, defende Lindau. Mas, para despertar a consciência do quanto a substituição do transporte motorizado pela bicicleta é saudável para o corpo e para a natureza, é preciso deixar de lado alguns preconceitos. “A bicicleta não é transporte de pobre, com status negativo. Bem pelo contrário, mostra o nível de consciência ambiental do cidadão. Tem a ver com a educação do povo e com a preocupação com o coletivo”, diz o presidente do CTS-Brasil. “Outra questão que deve ser trabalhada é a ideia de algumas pessoas de que bicicleta é só para apaixonados por ciclismo.”
Em Amsterdã, na Holanda, 40% dos deslocamentos da população até os locais de trabalho são feitos de bicicleta. Há casas em que a garagem é utilizada para guardar as bicicletas. Os carros são estacionados na rua. E, nas vias, as bicicletas têm prioridade de circulação sobre qualquer outro veículo. “Em cidades com até 500 mil habitantes, em percursos congestionados e para deslocamentos curtos, o transporte de bicicleta é bastante competitivo, pode até ser um meio mais rápido”, diz Lindau.
Mas para estimular o uso da bicicleta, tanto em Porto Alegre quanto no Estado e no Brasil, é necessário implantar ciclofaixas e ciclovias e estacionamentos para bicicletas em pontos estratégicos, como terminais de ônibus e metrô, de forma que permitam a integração dos meios de transportes. “Em Porto Alegre, o bairro Cidade Baixa é um dos locais com bom potencial para a implantação de ciclovias devido à proximidade do campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs)”, afirma Lindau. Para ele, os jovens têm um papel muito importante neste movimento de conscientização da importância da bicicleta como alternativa de transporte.
Porto Alegre tem potencial para 495 quilômetros de ciclovias
Na capital gaúcha, a implantação de rotas para bicicletas segue o Plano Diretor Cicloviário Integrado (PDCI) de Porto Alegre. O estudo, concluído em 2007, após dois anos de estudos, identifica 495 quilômetros de ruas e avenidas com possibilidades de receber ciclovias e ciclofaixas. As obras começarão pelos trechos classificados como prioritários pelo potencial para a circulação dos ciclistas. De acordo com a engenheira Lisandra Fraga Limas, técnica em trânsito e transporte, o primeiro local contemplado com obras é o bairro Restinga, que deverá ter 4,6 quilômetros de ciclovias.
Atualmente está em construção um trecho de 1,1 quilômetro na avenida Economista Nilo Wulff, entre a avenida João Antônio da Silveira e o terminal de ônibus. Também está prevista a construção de três quilômetros na avenida João Antônio da Silveira, entre as avenidas Edgar Pires de Castro e Ignês Fagundes. Além de outros 500 metros que conduzirão até as proximidades do Parque Industrial. A obra tem um custo estimado de R$ 1,5 milhão.
Na sequência, está prevista a construção da ciclovia da avenida Ipiranga que deve ter 6,6 quilômetros de extensão e está na fase de projeto. O traçado inicia na rua Edvaldo Pereira Paiva e segue até a rua Cristiano Fischer. A ciclovia será bidirecional e construída sobre o talude do Arroio Dilúvio. A obra tem um custo estimado em pouco mais de R$ 1 milhão e deve ser viabilizada através de parceria público-privada (PPP). A intenção da prefeitura é abrir a licitação ainda este ano e iniciar a obra no primeiro semestre de 2011. A avenida Sertório, na zona Norte de Porto Alegre, é a terceira área que receberá ciclovias. O traçado com 7,8 quilômetros unirá a Estação Farrapos do Trensurb à avenida Francisco Silveira Bitencourt a um custo de R$ 1,5 milhão.
No caso da Restinga, a escolha levou em conta o fato de que a bicicleta já é bastante utilizada como meio de transporte, principalmente por trabalhadores, e a falta de delimitação provoca acidentes. A avenida Sertório está em um bairro industrializado onde os trabalhadores usam a bicicleta para se deslocar ao trabalho. A Ipiranga corta a cidade no sentido oeste-leste, o que facilita a conexão com muitos bairros.
Há ainda as ciclovias voltadas para o lazer, como é a da avenida Diário de Notícias, no bairro Cristal, com 1,5 quilômetro e previsão de ampliação em mais 600 metros. A obra foi uma contrapartida pela construção do Barra Shopping Sul. A ciclovia Ayrton Senna, na orla do Guaíba, em Ipanema, com 1,26 quilômetro de extensão, que já existia antes do plano cicloviário, será revitalizada. Lisandra destaca que as vias que serão construídas para a Copa de 2014, assim como as obras de alargamento de pistas, preveem espaço para circulação de bicicletas.
Rio de Janeiro oferece 19 bicicletários e quer dobrar atuais rotas
Com a visão voltada para o futuro, Rio, Porto Alegre e São Paulo vêm criando espaços específicos para incentivar o uso das bicicletas como meio de transporte. Pioneiro no País na implantação de ciclovias na malha urbana, o Rio pretende chegar a 2012 com 300 quilômetros de ciclovias, ciclofaixas e pistas compartilhadas – o dobro da extensão atual. Com isso, quer assumir a liderança latino-americana em quilômetros de ciclovias.
Para atingir esta meta, a prefeitura criou o programa Rio, Capital da Bicicleta, que estimula o uso da bicicleta. O programa, coordenado pela da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smac), conta com representantes da Secretaria Municipal de Urbanismo, Secretaria Municipal de Transportes, Secretaria Municipal de Obras e organizações não governamentais.
Neste ano, duas ações importantes estão em fase de implantação. A primeira é a construção de ciclovias integradoras na zona Oeste com um total de 21,15 quilômetros, aproveitando a cultura do uso da bicicleta como meio de transporte. A obra, em fase de licitação, deve ser concluída em 2011. A segunda medida é a tomada de preços para a construção de ciclofaixas, na zona Sul ligando Copacabana a Botafogo; no Norte na Barra da Tijuca e no Grajaú; e na zona Oeste em Jacarepaguá.
O subsecretário da Smac, Altamirando Moraes, é um adepto da bicicleta, veículo que utiliza diariamente para se deslocar até o local de trabalho. “O uso da bicicleta já é um hábito dos cariocas e queremos intensificá-lo. Aliás, essa conduta é uma tendência mundial”, afirma Moraes.
No Rio há 19 bicicletários entre Copacabana, Leblon, Ipanema e Gávea, onde é possível alugar bicicletas. O serviço terceirizado é supervisionado pela prefeitura, que pretende criar mil vagas para bicicletas em bairros operários, junto a estações de trem e de ônibus e pontos comerciais. O objetivo do Rio é que em quatro anos 8% da população utilize a bicicleta como meio de transporte, o dobro de hoje. Com isso, a emissão de gases causadores do efeito estufa será reduzida em 8% até 2012. “Passamos muito tempo seguindo o modelo norte-americano, de utilizar mais o transporte movido a combustível fóssil. Mas, agora, pelo bem da humanidade, por uma questão ambiental, devemos adotar alternativas menos poluentes, como é o caso da bicicleta”, afirma Moraes.
São Paulo criou um departamento para a inserção do veículo como meio de transporte
Cidade brasileira mais populosa do Brasil, São Paulo aposta na bicicleta como alternativa de transporte e possui 45,5 quilômetros entre ciclovias e ciclofaixas implantadas, e outros seis quilômetros estão em obras. A meta é que até 2012 sejam construídos mais 100 quilômetros de ciclofaixas e ciclovias, principalmente nos bairros mais distantes do Centro, onde é crescente o uso da bicicleta como meio de transporte.
Desde que assumiu a coordenação do grupo Pró-Ciclista em julho de 2009, a Secretaria Municipal de Transportes (SMT) iniciou um programa de inclusão das bicicletas como meio de transporte e instrumento de lazer na cidade. Com essa finalidade, criou na Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) o Departamento de Planejamento Cicloviário, dedicado exclusivamente à política de implantação de ciclovias no município e à inserção da bicicleta como meio de transporte. O equivalente a 54,5 quilômetros - 20 quilômetros de ciclovia, 25 quilômetros de ciclofaixa e 9,5 quilômetros de trânsito compartilhado - já está em desenvolvimento de projetos e em andamento pela SMT.
A implantação das ciclovias vai beneficiar três pontos distantes do Centro da cidade onde, segundo a pesquisa Origem-Destino, realizada pelo Metrô, há um maior nível de utilização da bicicleta como meio de transporte. No último levantamento, executado em 2007, das 25,5 milhões de viagens por dia realizadas na cidade de São Paulo, aproximadamente 156 mil eram feitas de bicicletas. Dez anos antes, apenas 56 mil eram feitas por bicicletas. Isso significa que na comparação entre os dois períodos houve um acréscimo no uso da bicicleta de 183%.
A Ciclofaixa de Lazer, com 10 quilômetros de extensão, que liga o Parque das Bicicletas aos parques do Ibirapuera e do Povo, também será ampliada. O novo trecho compreenderá mais 20 quilômetros de ciclofaixa em um percurso que atravessa o rio Pinheiros, do Parque do Povo até o Parque Villa-Lobos. Com a ampliação da Ciclofaixa de Lazer, a prefeitura e a Companhia de Engenharia de Tráfego buscam aumentar as alternativas de atividade esportiva e de entretenimento para a população, estimulando a prática de uma atividade saudável.
Tipos de rotas
• Ciclovia - Pista destinada ao trânsito exclusivo de bicicletas, aberta ao uso público, separada da via pública de tráfego motorizado e da área destinada aos pedestres.
• Ciclofaixa - faixa destinada ao trânsito exclusivo de bicicletas, aberta ao uso público, demarcada na pista de rolamento ou nas calçadas por sinalização específica.
• Via de tráfego compartilhado - via aberta ao uso público, com pista compartilhada para o trânsito de veículos motorizados e de bicicletas.
(Por Cláudia Borges, JC-RS, 19/08/2010)