As modificações causadas pelas atividades humanas no planeta são cada vez mais evidentes e exigem modelagens complexas, estruturadas e aprimoradas para auxiliar na previsão dos cenários que nos aguardam
Atmosfera, oceanos, superfície, interações químicas, físicas e biológicas. São muitos os fatores incluídos na dinâmica terrestre e que tornam complexos os modelos de simulação das características climáticas e ecológicas a curto e longo prazo.
Com o auxílio do Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), diversos centros de pesquisa ao redor do Brasil estão adaptando modelagens globais às realidades regionais como uma forma de melhorar a precisão e tentar prever como determinados locais reagirão a mudanças no clima.
Em Santa Catarina, a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural (Epagri) através do Centro de Informações de Recursos Ambientais e Hidrometeorologia (Ciram) tem desenvolvidos trabalhos de zoneamento agrícola e modelagens climáticas para tentar prever como os principais cultivos reagirão aos efeitos das mudanças do clima.
“Todas as temperaturas estão se elevando, especialmente as mínimas”, comentou a pesquisadora da Epagri/Ciram Cristina Pandolfo durante o Workshop Mudanças Climáticas e Botânica na Universidade Federal de Santa Catarina.
O Ciram desenvolveu os primeiros cenários para Santa Catarina há três anos e tem buscado aprimorá-los através do fortalecimento da base de dados e da melhoria da escala, que atualmente é de 50km2. Além da elevação das temperaturas, o Ciram tem constatado um aumento na freqüência de eventos extremos no estado.
Perspectivas agrícolas em SC
As primeiras culturas a serem estudadas foram a maçã, de clima temperado, e a banana, tropical. Para a primeira, o Ciram concluiu que provavelmente haverá uma restrição grande quanto às áreas preferenciais de plantio e para os cultivos tropicais, as áreas continuarão aptas, porém com o aumento da possibilidade de ataque por pragas e doenças.
Atualmente sofrendo com épocas de forte seca, Santa Catarina pode vir a ter sérios problemas com as culturas anuais devido ao aumento do déficit hídrico.
Cristina argumenta que as mudanças climáticas podem, a longo prazo, causar grandes impactos culturais na vida dos agricultores e sobre a cadeia produtiva do estado.
Precisão
Os modelos de simulação dos cenários futuros já percorreram um longo caminho e são cada vez mais baseados em situações reais resultantes do monitoramento de condições concretas, medidas em campo. Entretanto, o Brasil, diferentemente de países como os europeus, não tem uma história muito longa na área de pesquisas tanto no registro de dados climáticos, como outras características naturais a exemplo da biodiversidade.
A pesquisadora do Ciram explica que os modelos utilizados em SC ainda precisam incluir pontos essenciais como fatores hídricos, adaptação das espécies cultivadas e tecnologias usadas pelos agricultores. Portanto, além da cooperação entre as diferentes agências governamentais e de pesquisa, é preciso investir na construção de uma base de dados íntegra e contínua.
Cristina comentou ainda que a precisão dos modelos climáticos depende fortemente dos dados utilizados, como uma boa malha de informações meteorológicas, e que existem várias metodologias para reduzir os erros.
A pesquisadora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro Dra. Marinez Ferreira de Siqueira, diz que as suposições e incertezas são inevitáveis, mas entendê-las, é essencial para interpretar os resultados preditivos antes de aplicá-los.
No caso das questões de distribuição de espécies estudadas por Marinez, ela explica que “para diminuir o efeito das suposições e incertezas, especialistas estão realizando esforços para incorporar demografia, dispersão, efeitos da fragmentação, interações bióticas, e respostas mecanicistas das espécies aos fatores biofísicos”.
Outra solução para contornar esses problemas, lidando com a variabilidade entre os modelos, “seria utilizar vários modelos, somar os múltiplos resultados e usar técnicas apropriadas para explorar as amplitudes dos resultados das projeções”.
“Assim, a capacidade dos modelos em usar a informação atual em conjunto com as projeções dos modelos climáticos pode fortificar a tomada de decisão por conservacionistas e manejadores de recursos naturais”, ressalta a pesquisadora.
Para contribuir com a capacitação de pesquisadores para atuar no campo das modelagens climáticas, o INPE desenvolveu um curso de pós-graduação em ‘Ciência do Sistema Terrestre’, que busca entender a dinâmica da complexa interação de sistemas naturais e sociais.
(Por Fernanda B. Müller, CarbonoBrasil, 17/08/2010)