Acidente provocado por uma embarcação a serviço da petroleira Pluspetrol causou danos à fauna e flora da região
Um vazamento de petróleo na Amazônia peruana no dia 19 de junho foi encarado por especialistas como um sinal de alerta para o crescimento das atividades petrolíferas no Estado do Amazonas. O acidente, provocado por uma embarcação a serviço da petroleira Pluspetrol, derramou 400 barris de petróleo no Rio Marañon, provocando efeitos devastadores na fauna e flora da região.
Especialistas dizem que, embora os volumes de petróleo sejam consideravelmente menores do que grandes acidentes em plataformas marítimas – como o ocorrido no Golfo do México, que derramou 5 milhões de barris –, o risco de danos ao meio ambiente é maior, por se tratar de regiões mais sensíveis. Além da diversidade ambiental, o óleo ficaria confinado em algum rio e suas margens, sem possibilidade de se dispersar pelo oceano.
“O petróleo é arriscado como qualquer atividade econômica, mas o impacto é ressaltado na Amazônia por causa da complexidade do bioma”, diz o secretário executivo de geodiversidade da Secretaria de Desenvolvimento sustentável do Amazonas, Daniel Nava. “Mas cria perspectivas econômicas”, completa ele, que diz que os riscos são previsíveis e uma operação responsável pode reduzi-los ao máximo.
Em duas décadas de operação na Bacia do Solimões, não há registro de acidentes relevantes. O problema é que um volume maior de produção demandará maior capacidade de transporte do óleo, por dutos ou por barcaças.
O licenciamento ambiental para as atividades de petróleo na floresta é dividido entre o Estado e o governo federal: o Instituto de Proteção Ambiental do Estado do Amazonas costuma avaliar os pedidos para perfuração de poços e o Instituto Nacional do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis atua em projetos de maior porto, como o Gasoduto Coari-Manaus. A Agência Nacional do Petróleo (ANP), por sua vez, tem um programa de diretrizes para o transporte de óleo na região.
Até agora, as atividades de exploração e produção têm sido planejadas com o objetivo de provocar o menor dano possível à floresta. O campo de Urucu, por exemplo, não é acessado por via terrestre, o que elimina os riscos de ocupação de margens de rodovias. As instalações estão isoladas de qualquer cidade e funcionam como plataformas marítimas de petróleo – os funcionários trabalham em turnos de 15 dias, vivendo em um alojamento na floresta.
A literatura especializada dá maior destaque aos riscos em países vizinhos do que ao Brasil. Estudo recente dos pesquisadores Martí Orta Matt Finer, publicado na revista especializada Environmental Research Letters, por exemplo, sugere que o Peru abra um debate sobre a viabilidade de novas concessões na região. Eles alertam que 41% da Amazônia peruana está hoje concedida à exploração e petróleo e gás.
(Agência Estado, 17/08/2010)