"Podemos recuperar os trechos já consolidados da BR 319, mas no trecho não consolidado a recuperação [da estrada] não se justifica, pelo alto impacto ambiental e pela inviabilidade econômica. Serão milhões a serem investidos apenas para as pessoas passearem com seus carros, já que nesses trechos não há atividade produtiva. É melhor subsidiar a passagem de avião", disse a candidata à presidência, Marina Silva, sobre as obras na BR 319, que liga Manaus (AM) a Boa Vista (RO).
Sua fala ocorreu no sábado, 14, no auditório da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Manaus, durante a sabatina organizada pelo Fórum Amazônia Sustentável para tratar das políticas dos candidatos para a região Amazônica.
Além de sua posição contrária às obras na BR 319, Marina defendeu um plano estratégico de infraestrutura para a Amazônia, que coloque no mesmo nível de importância a viabilidade econômica e a ambiental. "Os atuais investimentos tratam problemas sociais e ambientais como externalidades. É preciso compreender que a viabilidade econômica e a ambiental fazem parte da mesma realidade, sobre o risco de repetir as mesmas tragédias do resto do Brasil", disse.
Retrocesso Ambiental
A usina de Belo Monte, no rio Xingu (PA), também foi citada pela candidata durante a sabatina. Segundo ela, a obra não tem sequer viabilidade econômica, tanto que é subsidiada pelo governo federal. "Não é uma comédia cometer os mesmos erros de anos atrás, como em Belo Monte, onde erros apontados há 20 anos ainda não tiveram solução", criticou.
A mudança no Código Florestal foi outro ponto criticado pela ex-ministra do Meio Ambiente. "É um dos piores retrocessos na legislação brasileira, principalmente para as florestas. Ele revoga o artigo primeiro, que diz que florestas são bens sociais. Estão dizendo que as florestas não são bens de todos, mas só de alguns", lamentou.
Para ela, o Código precisa incorporar a Constituição de 1988, a Lei de Gestão de Florestas e a Lei de Crimes Ambientais. A proposta apresentada por Aldo Rebelo não atende a economia do século XXI, na visão da senadora, que espera uma nova proposta de alteração da lei a ser apresentada pelo governo federal.
Evento
Esta foi a segunda sabatina com candidatos à presidente realizada pelo Fórum. Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) já havia sido ouvido em Belém. A sabatina de José Serra (PSDB) está marcada para o dia 19 de agosto. Dilma Roussef (PT) confirmou que vai participar, mas não definiu uma data para o debate.
Fórum Amazônia Sustentável
O Fórum Amazônia Sustentável foi fundado em Belém (PA) em novembro de 2007, como resultado de um longo processo de diálogo iniciado em abril do mesmo ano sob a liderança do Instituto Ethos e de 40 outras organizações.
Atualmente, a organização conta com 208 associados. Seu é discutir é elaborar uma agenda para a promoção do desenvolvimento sustentável na Amazônia. Para isso, cria espaços de debate para envolver pessoas de diversos segmentos e prioriza a formação de uma cultura em favor da sustentabilidade.
(Por Thais Iervolino, Amazonia.org.br, 16/08/2010)