Ondas de calor na Rússia e enchentes no Paquistão são reflexos dos recordes de temperaturas registrados nos últimos meses, porém antes de culpar o aquecimento global cientistas querem mais ferramentas de monitoramento
Os habitantes de Moscou vão lembrar o calor do verão de 2010 por um longo tempo. O recorde de dia mais quente já registrado foi batido cinco vezes durante um período de duas semanas entre julho e agosto. Por 29 dias seguidos a temperatura na cidade esteve acima de 30°C.
Além desse forte calor, toda a Rússia sofre com uma estiagem e com a proliferação de queimadas. A fumaça, estagnada sobre diversas cidades, preocupa autoridades pelo seu perigo à saúde pública. A cultura de trigo também está prejudicada e pode causar impactos econômicos e de abastecimento em todo o planeta.
A mais de quatro mil quilômetros de Moscou, as chuvas de monção castigam o Paquistão e já causaram a morte de mais de 1300 pessoas e afetam a vida de outros 14 milhões. Somente a cidade de Peshawar, a 140 km da capital Islamabad, choveu em um único dia seis vezes mais que o esperado para o mês inteiro.
Segundo Brandon Miller, meteorologista da rede CNN, esses dois eventos devem estar relacionados a uma área de alta pressão estacionada sobre o oeste da Rússia. Porém, os recordes de temperaturas registrados em 2010 estão fazendo essa área ter uma força além do normal. Estaria nisso o possível dedo do aquecimento global nesses desastres.
Melhor Monitoramento
Apesar de sempre ser cautelosa ao abordar as mudanças climáticas, a Organização Mundial de Meteorologia afirma que os desastres vistos entre julho e agosto encaixam perfeitamente naquilo que os cientistas climáticos vêm alertando nos últimos anos: eventos extremos do clima ficarão cada vez mais freqüentes.
Especialistas agora enxergam como urgente a necessidade de criar melhores ferramentas para prever o acontecimento desses fenômenos. Reuniões com esse objetivo estão agendadas para agosto e setembro tanto na Europa quando nos Estados Unidos.
“Não há tempo a perder, a sociedade precisa estar equipada para lidar com o aquecimento global”, afirmou Peter Stott, meteorologista do governo britânico.
Stott afirma que existe um grande movimento de cientistas que estão interessados em desenvolver modelos computacionais mais detalhados sobre as causas e efeitos do aumento da temperatura no planeta. Esse deverá ser o próximo passo da meteorologia mundial, acredita o pesquisador.
O Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC) vem há vários anos alertando que o aumento das temperaturas globais iria produzir ondas de calor e precipitações mais intensas e freqüentes. A entidade foi além e no seu relatório de 2007 avisava que isso já estava sendo observado.
Apesar disso, climatologistas geralmente não responsabilizam o aquecimento global por secas ou enchentes, pois muitos outros fatores estão envolvidos em tais fenômenos. Mas isso não é desculpa para que não sejam tomadas medidas para minimizar essas catástrofes.
“Uma coisa é certa: desastres climáticos continuarão a acontecer e nosso conhecimento e monitoramento sobre eles deve melhorar. Assim poderemos responder o que está realmente os causando e como podemos minimizar seus efeitos”, concluiu Stott.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 16/08/2010)