Calçados coloridos elaborados com forros de guarda-chuva, aros das rodas de um avião de pequeno porte e uma peculiar mistura de papel jornal com restos de madeira compõem uma mostra de arte feita com materiais descartados que fica em exposição até 31 de agosto em San Salvador.
"Re/Use, accesorios de ecodiseño", dos artistas costarriquenhos Sidhartta Mejía e Joséluis Zawate, fez com que a sala de exposições do Centro Cultural da Espanha em El Salvador pareça uma sapataria exclusiva de modelos exóticos.
"Apresento aqui sapatos de boa qualidade feitos a partir da reutilização de materiais poluentes. Estou feliz porque depois de tantos anos de pesquisa consegui criar um produto que respeita o meio ambiente", disse à Agência Efe Joséluíz Zawate, um dos expositores.
Zawate, que é filho de um sapateiro, iniciou sua pesquisa há dez anos, quando quis dar continuidade ao trabalho de seu pai produzindo belos sapatos, mas nesse processo conseguiu algo maior, passou de artesão a artista.
Os sapatos de Zawate são forrados com tecido de guarda-chuva quebrados que ele recolhe do lixo. Sobre essas capas ele pinta animais, flores, figuras humanas e paisagens, sempre usando muitas cores.
Em uma das paredes da sala de exposição, do lado dos calçados de Zawate, quem também criou uma linha de botas "urbanas, leves, flexíveis e antideslizantes", é possível ler a frase "Lição básica para deixar de ser do terceiro mundo", uma sentença com o objetivo de dar às boas-vindas aos espectadores.
Acompanhando os singulares sapatos de Zawate estão os não menos criativos desenhos de Sidhartta Mejía, quem brinca com objetos de uso cotidiano e transforma sua apresentação a utilizando papel jornal, restos de madeira e acrílicos não tóxicos.
EDUCAÇÃO
"Busco utilizar o desenho como referência para educar em um tema que é uma necessidade para todos no planeta como o é ter consciência do uso que fazemos das coisas que consumimos. Vivemos há muitos anos em uma cultura de usar e jogar fora, mas precisamos mudar essa maneira de ver as coisas", explicou Mejía.
Mejía trouxe a El Salvador chapéus e calçados para todas as idades com aparência de casca de árvore e alguns com aplicações feitas a partir de troncos.
Em sua proposta também há instrumentos musicais elaborados com garrafas e restos de madeira, porque o artista também é músico e tem uma banda que faz concertos na Costa Rica, especialmente em escolas e universidades.
Esta mostra, que abriu às portas em 11 de agosto com um pequeno concerto de Mejía, faz parte de um projeto de "ecodesenho" que incluiu uma oficina ministrada pelos artistas para estudantes salvadorenhos de desenho.
Na oficina eles estimulam os participantes a realizar seus próprios desenhos a partir de resíduos e suas criações se incorporaram à exposição.
Um revisteiro feito com caixas de ovo e uma bolsa elaborada a partir de um disco de vinil são algumas demonstrações da criatividade dos jovens estudantes salvadorenhos.
O curador da exposição, Antonio Romero, explicou que com esta mostra consegue evidenciar um compromisso de responsabilidade com o planeta e procura oferecer uma nova perspectiva nos processos de fabricação dos objetos.
"Não são só obras de arte, são também objetos funcionais, objetos que podem ser usados, simples e simplesmente coisas que podemos reutilizar", destacou.
(Folha Online, 16/08/2010)