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celulose e papel passivos da silvicultura política ambiental uruguai
2010-08-17 | Tatianaf

“Um uruguaio consome 40 quilos de papel por ano, contra os 400 quilos consumidos por um finlandês. Produzimos madeira para alimentar o consumo estrangeiro”, disse ao Terramérica a socióloga María Selva Ortiz, representante da organização ecologista Redes - Amigos da Terra. “E a mochila ecológica desse consumo é carregada por nossa água, nosso solo, nossos produtores”, acrescentou.

Por trás das centenas de milhares de toneladas de “rolos” de madeira produzidas, como matéria-prima da indústria papeleira, existe uma paisagem de estradas danificadas, monoculturas estendidas, recursos hídricos exigidos e solos degradados, afirmam os ecologistas. Para María, a expansão florestal traz consigo deslocamento de pequenos produtores, estrangeirização da propriedade agrária e danos a uma cultura de produção de alimentos.

Retratar a transformação que o mapa natural uruguaio sofreu entre 1965 e 2009 é um dos propósitos do informe “América Latina e Caribe: Atlas de nosso mutante meio ambiente”, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), com base em imagens tiradas por satélites ao longo de décadas. Uma prévia desse estudo foi apresentada na XVII Reunião do Fórum de Ministros do Meio Ambiente da América Latina e do Caribe, realizada de 26 a 30 de abril no Panamá.

A área reflorestada uruguaia passou de 45 mil hectares em 1990 para 900 mil em 2009, informa o Atlas. Isto representou perda de biodiversidade, alteração do ciclo da água e degradação do solo, de acordo com o Pnuma. Segundo o senador oficialista Ernesto Agazzi, ex-ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca, o país tem 1,5 milhão de hectares de árvores e apenas 750 mil correspondem a florestas nativas. Quase todo o resto é de plantações de espécies estrangeiras, das quais o eucalipto ocupa 70% e o pinheiro 30%. E são mais de três milhões de hectares de prioridade florestal em uma área total de 17,6 milhões de hectares.

A lei florestal 15.939 de 1987 promoveu estas monoculturas em áreas de baixa produtividade de lã e carne – nesse país pecuarista – mediante subsídios, devolução de impostos e créditos brandos. As plantações foram assentadas em pradarias, o ecossistema mais abundante e de maior biodiversidade deste país, e em áreas onde existiram florestas. “Foi uma lei apresentada para os proxenetas da celulose”, disse o ex-ministro ao Terramérica.

Quando a esquerdista Frente Ampla chegou ao governo em 2005, foram eliminadas as subvenções à atividade, que já era “economicamente madura e, para investir, agora é preciso elaborar um projeto que deve ser analisado econômica, social e ambientalmente”, disse Ernesto. Diante do alerta dos ambientalistas sobre o dano destas monoculturas ao solo e à água, o senador respondeu que “os riscos se apresentam em áreas de recargas de lençois freáticos e solos arenosos, o resto não passa de especulação sem base técnica”. Em sua opinião, os ativistas “costumam ter medo de árvore, como se fosse um inimigo”.

Entretanto, “o problema não é a árvore, mas os centenas de milhares de hectares plantados que são como uma noite, produzem pragas de javalis, raposas e maritacas e servem apenas para alimentar o consumo excessivo dos países do Norte”, disse ao Terramérica a ativista Elizabeth Díaz, do não governamental Grupo Guayubira. Elizabeth afirmou que “pesquisas científicas de todas as partes do mundo dizem que as nascentes de bacias não devem ser reflorestadas” com essas espécies “para proteger o caudal das águas”.

“Estamos reflorestando de forma maciça nas nascentes da bacia do Rio Tacuarembó Grande, no norte, e Santa Lucía, no sul”. O primeiro é tributário do Rio Negro, onde estão instaladas três represas hidrelétricas, e o segundo abastece de água potável 70% da população do país. De acordo com a “Caracterização dos trabalhadores florestais”, feita em 2009 pelo sindical Instituto Cuesta Duarte, mais de 90% dos 1.600 trabalhadores florestais uruguaios, concentrados nos departamentos de Paysandú, Rivera e Tacuarembó, trabalham com subcontratos.

As condições “melhoraram muito nos últimos cinco anos a partir da instalação dos Conselhos de Salários e da lei de terceirizações, porque boa parte do trabalho é feita a partir de companhias terceirizadas, sinônimo de fraude permanente contra os trabalhadores”, disse ao Terramérica o secretário-geral do Sindicato de Operários da Indústria da Madeira e Anexos, Fernando Oyanarte. Porém, “pelas próprias particularidades do trabalho florestal, é difícil organizar trabalhadores dispersos em lugares de difícil acesso e que são nômades. Hoje estão com um patrão, amanhã com outro”, disse.

Um desses trabalhadores é Pablo Litrizon. Ele é contratado da Nazca Serviços Florestais, fornecedora da Florestal Oriental, que, por sua vez, abastece a fábrica de celulose da corporação finlandesa UPM, assentada no Rio Uruguai. “São duas as formas de relacionamento com as empresas. As multinacionais, que respeitam a legislação vigente, e um monte de empresas pequenas que abastecem as unidades de energia e trabalham em regime de escravidão, sem condições dignas de moradia, com má alimentação e uma série de deficiências”, denunciou.

“O mameluco (roupa protetora) deve ser trocado a cada dez horas de aplicação de pesticidas, mas são usados até rasgar”, disse Pablo, representante sindical em Paysandú. Segundo o gerente-geral da Sociedade de Produtores Florestais, Edgardo Cardozo, nos últimos 20 anos foram investidos mais de US$ 2,4 bilhões no setor. “Hoje, a chave é a cautela, já que nem todos os países superaram a crise de 2008”, disse Edgardo ao Terramérica.

A chilena Arauco e a sueca-finlandesa Stora Enso se preparam para construir nova fábrica de celulose no sudoeste do Uruguai. Mas outros planos ainda são dúvida. O reflorestamento produz renda de US$ 600 milhões ao ano, sem contar a produção da UPM, disse ao Terramérica o engenheiro Pedro Soust, diretor-geral florestal no Ministério da Pecuária, Agricultura e Pesca. Seu departamento controla 90% do setor, e os processos de certificação, que impõem normas trabalhistas e boas práticas, são aliados valiosos na cadeia, afirmou.

(Por Silvana Silveira, IPS, Terramerica, EcoAgência, 16/08/2010) 
 


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