O biodiesel produzido pela Socialtec a partir de óleo de frituras está em fase de testes. A empresa, instalada na Incubadora Raiar da PUCRS, iniciou atividades em janeiro deste ano e, em parceria com restaurantes e escolas, reuniu matéria-prima necessária para a transformação do resíduo em combustível, processo realizado na usina piloto instalada no Centro Social Marista (Cesmar), no Bairro Rubem Berta, em Porto Alegre.
Os testes irão avaliar potência e consumo, usando como parâmetros os resultados obtidos com diesel, e serão feitos no laboratório de Motores e Componentes Automotivos da PUCRS. O desempenho da mistura de diesel e biodiesel também será avaliado. Nesse caso, será testada a adição de 2% a 99% de biodiesel na composição com o combustível fóssil, seguindo padrões de qualidade recomendados pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Ronaldo Silvestre, um dos sócios da Socialtec, acredita que os testes sejam concluídos no segundo semestre de 2010, permitindo que a empresa busque parcerias com órgãos públicos para utilização do produto em carros de frotas atuantes. O biocombustível produzido pela empresa foi testado em veículos do Cesmar em caráter experimental gerando resultados positivos.
Silvestre explica que o descarte inadequado do óleo de frituras traz problemas ao meio ambiente. "Quando despejamos o resíduo na pia, entupimos tubulações de esgotos e comprometemos a atuação das estações de tratamento de água", aponta. Além da produção de biodiesel, a Socialtec atua como assessoria e consultoria para gestão de projetos ambientais, acompanhando desde a pesquisa, desenvolvimento, concepção e colocação no mercado. "Priorizamos a fabricação localizada e distribuída junto às comunidades regionais dos grandes centros urbanos, diminuindo despesas com transporte e distribuição", observa o empresário. Ele esclarece que a gradativa substituição do diesel por biodiesel trará reduções na emissão de gases do efeito estufa, principalmente os monóxido e dióxido de carbono, reduzindo em até 100% as emissões de dióxido de enxofre.
Com o assessoramento, o objetivo da empresa é contribuir com o desenvolvimento de regiões que não têm acesso às tecnologias de transformação de resíduos em biodiesel, gerando novas oportunidades de emprego e de riqueza local. Nesse sentido, a atuação da Socialtec compreende desenvolver sistema de logística de captação de óleo de frituras, formando uma consciência ambiental focada na importância desse reaproveitamento envolvendo escolas, centros sociais, empresas, universidades, prefeituras, cooperativas, pequenos agricultores, ONGs e propriedades individuais.
A relevância do projeto da Socialtec para transformação de óleo de frituras em biodiesel proporcionou a seleção no edital Rhae - Pesquisador na Empresa, do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica (Setec) e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) em 2009. O objetivo do edital é a inclusão de mestres e doutores em projetos para desenvolverem atividades de pesquisa científica, tecnológica e de inovação. A empresa terá apoio financeiro para manutenção de bolsistas das áreas de biologia, ciências sociais, química, engenharia mecânica e de controle e automação. São parceiros no projeto a PUCRS, por meio das Faculdades de Engenharia e de Química, e o Cesmar, além do apoio da Prefeitura de Porto Alegre.
Cenário Nacional
Atualmente o diesel consumido no Brasil deve apresentar uma adição de 2% de biodiesel entre 2008 a 2012, sendo estipulada uma meta de até 5% a partir de 2013. A ANP regulamenta o uso de sementes oleaginosas como soja e mamona para produção de biodiesel. Ainda que os óleos residuais sejam subprodutos da indústria e seu aproveitamento torne o biodiesel mais barato e reduza custos com tratamento desses resíduos, a ANP não apresenta legislação específica para o combustível obtido a partir desses materiais.
(PUC-RS, 16/08/2010)