Os nativos da Amazônia peruana, cerca de 400.000, segundo cálculos do Governo, decidiram dar um passo a mais em sua busca por um lugar no cenário político do país com o anúncio da criação de um partido com o qual pretendem participar das eleições presidenciais e parlamentares de 2011. O movimento, que se chamará Aliança para a Alternativa da Humanidade (APHU), será apresentado oficialmente em setembro próximo e seu candidato à presidência será provavelmente Alberto Pizando, líder da grave amazônica que no ano passado terminou com os enfrentamentos em Bagua, em que morreram 34 pessoas, a maioria policiais.
A reportagem é de Jaime Cordero e está publicada no jornal El País, 13-08-2010. A tradução é do Cepat.
Pizango, que depois do enfrentamento obteve asilo político na Nicarágua, voltou em maio passado ao Peru e agora enfrenta um processo judicial, acusado de ser um dos instigadores da chacina. Na quarta-feira declarou que a formação do partido político é uma forma dos nativos responderem às tentativas do Executivo de dividi-los mediante a criação de coordenações ou agrupações “que não têm a representatividade necessária para falar em nome dos povos”.
Investimentos na selva
Também garantiu que o futuro partido “será uma ferramenta política da Amazônia e seus recursos, que pertencem a todos os peruanos” e que ele próprio está disposto a ser o candidato presidencial: “Se os povos propuserem que eu seja a figura política, a que pode levar adiante os grandes ideais, as grandes propostas, estou à disposição deles”, adiantou.
Mesmo que uma eventual candidatura Pizando seja pouco mais que testemunhal, nos últimos anos – e especialmente depois da greve de 2009 – os nativos indígenas ganharam notoriedade na política peruana por sua oposição a vários projetos e iniciativas do Governo com vistas a estimular os investimentos na selva amazônica.
Os nativos, que têm uma relação cultural com seu ambiente muito diferente da ocidental, exigem que se respeite o seu direito de serem consultados sobre qualquer decisão relacionada com suas terras. Um projeto sobre isso foi aprovado recentemente pelo Congresso, mas não entrou em vigor porque o Executivo, em vez de promulgá-lo, devolveu-o ao Legislativo com observações.
(IHU-Unisinos, 15/08/2010)