Para meteorologista, fuligem de queimadas no centro do país chegou ao Estado com a precipitação ontem
A chuva laranja que caiu ontem sobre Porto Alegre deixou um alerta: o tempo está doido. Para completar, princípio de tromba d’água em Pelotas, ventos de mais de 110 km/h em Santa Maria e grande possibilidade de nevar na Serra, neste fim de semana.
Depois de uma quinta-feira abafada, com máxima no Estado de 26,6ºC em Iraí, a previsão é de que o final de semana gele o solo gaúcho. Enquanto isso, o Rio Grande do Sul experimenta desde quinta-feira diversos fenômenos em um curto espaço de tempo.
Apesar de curiosas, as alterações ao longo do dia são comuns no Estado. Conforme Estael Sias, da Central de Meteorologia, o Rio Grande do Sul tem uma localização geográfica que possibilita a ocorrência de praticamente todos os fenômenos da natureza:
– Estamos entre o Equador, região mais quente do planeta, e os polos, áreas mais frias da terra. É uma zona de conflito entre as massas de ar quente e de ar frio.
Ontem, no entanto, houve a coincidência de ocorrer pelo menos dois fenômenos raros no mesmo dia. Uma chuva com um tom alaranjado surpreendeu moradores de alguns pontos de Porto Alegre à tarde. A garoa marcou a lataria e o vidro dos carros de algumas áreas. A comerciante Valquíria Santos, proprietária de uma lavagem de carros, no bairro Menino Deus, levou um susto quando viu o Ka que acabara de lavar colorido com pingos cor de barro.
– Era meio-dia e eu tinha acabado de lavar o carro. Entrei para almoçar e, quando voltei, 15 minutos depois, vi que o carro estava alaranjado, todo sujo de novo. Notei que todos os outros estavam iguais – conta Valquíria.
Na zona norte da cidade, motoristas relataram ter visto uma chuva fraca, de cor barrenta, tocar os vidros de seus carros. Os automóveis em Três Passos também amanheceram sujos, segundo o leitor Gilberto Griffante:
– Estranhei meu carro cheio de marca de pó seco após a chuva. Diferentemente do que acontece normalmente, as gotas eram sujas e já estavam secas.
Seriam duas as hipóteses para a ocorrência da chuva com cor diferente. A mais provável, para Estael, é o vento norte, que está mais intenso no Estado desde a tarde de quarta-feira, ter carregando a fuligem das queimadas do centro do país. Em estados do Centro-Oeste, do Sudeste e do Norte, não chove há mais de cem dias e a queimada está intensa.
Outra hipótese, mais fraca para a meteorologista, é de que dias seguidos de tempo seco e inversão térmica tenham aumentado a concentração de poluentes no ar, fazendo com que a chuva lavasse a atmosfera, depositando na superfície os resíduos.
– Só lembro de algo semelhante na erupção do Chaiten, vulcão no Chile, em 2008, quando os ventos trouxeram a fuligem em direção ao Estado – lembra Estael.
(Zero Hora, 13/08/2010)