O trabalho de observar a imprensa exige dois tipos básicos de atenção: o olhar sobre o detalhe, que implica registrar as escolhas de cada dia, o tamanho proporcional das unidades de informação e sua colocação entre os destaques; e a atenção para o todo, o conjunto de notícias de todo dia em relação ao conjunto das edições, por um período mais longo.
No sentido da visão mais ampla, pode-se afirmar que os jornais brasileiros, de modo geral, estão evoluindo no que se refere à abordagem da questão ambiental, mas continuam patinando diante do desafio da desigualdade social.
Tomemos como exemplo a notícia publicada na quarta-feira (11/8) por alguns dos principais jornais do país, dando conta de que a empresa Braskem vai expandir a produção do plástico de etanol a outros países.
Lenta e gradual
A viabilidade da produção industrial do chamado "plástico verde" foi anunciada em junho de 2007, e saudada como uma iniciativa favorável ao meio ambiente. Nesse período, apenas três anos atrás, o desenvolvimento de tecnologias alternativas para substituir derivados de petróleo e outras iniciativas voltadas para a mudança das matrizes industriais e de energia eram temas de jornalismo científico ou das seções sobre meio ambiente, então ainda incipientes na imprensa brasileira.
O fato de os jornais passarem a incluir os grandes negócios com tecnologia "verde" entre as notícias gerais da economia mostra que, aos poucos, a imprensa brasileira vem admitindo o fato de que um novo paradigma – o da defesa do meio ambiente – está se consolidando nas empresas.
A questão ambiental deixa o nicho onde era isolada e passa a transpassar naturalmente o noticiário econômico, como fator cada vez mais condicionante dos negócios.
Falta acontecer o mesmo com a questão social. Por enquanto, os jornais ainda tratam o desafio das desigualdades e da pobreza como um problema do governo.
A imprensa evolui, mas de forma lenta, segura e gradual.
(Por Luciano Martins Costa, Observatório da Imprensa, 11/8/2010)