Cocares coloridos, rostos e corpos pintados, discursos emocionados e firmes. Esse é o clima durante o segundo dia do acampamento Em Defesa do Xingu, contra Belo Monte! As cerca de 500 pessoas presentes (indígenas, ribeirinhos, agricultores e representantes de movimentos sociais) estão reunidas para discutir sobre os graves impactos ambientais e sociais causados pelas grandes obras do governo federal.
Com uma programação rica em convidados especialistas que apresentaram seus trabalhos sobre a temática, o encontro debateu na manhã desta terça dia 10 os grandes empreendimentos para a Amazônia brasileira, como a construção de rodovias e hidrelétricas, especialmente de Belo Monte e de Jirau.
A primeira mesa de debate do encontro foi coordenada por Marcos Apurinã, coordenador geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) e contou com a participação dos professores da Universidade Federal do Pará (UFPA) Hermes Fonsêca de Medeiros e José Herrera e Guilherme Carvalho, da Federação de Orgãos para Assistência Social e Educacional (Fase).
"Embora não se consiga mensurar totalmente os reais impactos que serão causados por esses grandes projetos, como Belo Monte, é importante deixar claro sobre o que estamos falando. São milhares de famílias que serão desalojadas, que ficarão sem recursos naturais que lhes garantem sobrevivência, sem água. É preciso pedir o apoio da opinião pública para frear essas agressões ao meio ambiente, à cultura tradicional desses povos", afirmou Medeiros.
Megaprojetos versus direitos Humanos
Em todas as falas um ponto chamou atenção dos participantes: a luta não é somente contra Belo Monte, que o governo persiste em construir há mais de 30 anos. A luta é contra todo e qualquer projeto do Estado que desrespeite os direitos humanos. "Quando o governo anuncia que vai fazer grandes obras ele não está pensando no que é melhor para o povo, ele está servindo ao grande capital", disse Moisés Ribeiro, representante do Movimento de Atingindos por Barragens (MAB).
Ribeiro ainda declarou que é inaceitável a desculpa de que não se tem dinheiro para investir em políticas públicas de saúde, em melhores condições de vida para os ribeirinhos, quilombolas ou para investir na educação escolar indígena. "Ele sempre tem dinheiro para construir suas grandes obras".
Guilherme Carvalho concorda com Ribeiro. "A nossa campanha, por isso, não é somente contra Belo Monte, ela é mais ampla e definitiva. É uma campanha para denunciar para a opinião pública a loucura que o governo federal quer fazer contra o Brasil, contra a Amazônia e contra o povo brasileiro", declarou.
Participação
Após as falas e observações dos especialistas foi aberto um espaço para a manifestação dos participantes do encontro. Para Kretã, liderança do povo Kaingang e representante da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul), Belo Monte é um crime contra os povos indígenas do país a exemplo de outros já praticados pelo Estado, como a construção da usina hidrelétrica binacional de Itaipu na região de fronteira entre Brasil e Paraguai.
"Que tipo de progresso esse governo sindicalista quer para nós? Nós acreditamos muito nesse governo. Eles queriam chegar lá e chegaram. Queriam aprovar leis e aprovaram várias, no entanto, muitas que vão contra os direitos dos povos indígenas. Muitos de nós, parentes, colocamos esse pessoal lá no poder e agora eles se viram contra nós", afirmou Kretã.
Para Marcos Apurinã, a grande preocupação é saber quem vai manter as tradições dos povos indígenas. "O dinheiro não vale mais que a natureza, que nossas tradições! Por isso, eu gostaria de dizer, parentes, que nós não vamos vender nosso sangue, vender nossos filhos para o grande capital. Nós vamos lutar. Nós nunca vamos desistir!”
(Por Cleymenne Cerqueira, Brasil de Fato, 12/08/2010)