Propriedades rurais interessadas no mercado de compensações ambientais serão auditadas
Ativos serão avaliados e colocados à disposição de interessados em compensar as emissões de suas atividades
O setor agropecuário de Mato Grosso, conhecido internacionalmente por seus passivos ambientais, anunciou que pretende se tornar "exportador" de florestas, rios, áreas de reserva legal e de preservação permanente.
Entidades como a Famato (Federação da Agricultura e Pecuária) e a Fiemt (Federação das Indústrias) lançaram na última semana uma bolsa de ativos ambientais que irá cadastrar, auditar e certificar propriedades rurais interessadas no mercado de compensações ambientais.
Os ativos de cada área serão avaliados a partir de parâmetros internacionais, diz Ricardo Arioli, diretor-executivo do Instituto Ação Verde, Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) ligada à Famato que irá se encarregar da certificação.
Ao final do inventário, os créditos serão colocados à disposição de quem quer compensar as emissões de suas atividades econômicas.
"Será uma plataforma de negócios. Uma empresa que utiliza carvão mineral nos EUA, por exemplo, poderá comprar ativos originados em uma fazenda de Mato Grosso", diz Arioli.
Segundo ele, o inventário não irá calcular o potencial de áreas de mata preservadas. Fatores como a biodiversidade e a "pegada hídrica" de cada propriedade também serão contabilizados e convertidos em créditos.
"Existem metodologias para calcular a contribuição de uma área de mata ciliar preservada para a disponibilidade de água em determinada região. Esse serviço ambiental pode se transformar em crédito", diz.
As primeiras áreas a serem cadastradas serão 1.234 pequenas propriedades ribeirinhas que participam de um programa de recuperação das margens do rio Cuiabá.
Arioli diz que Mato Grosso tem ativos ambientais suficientes para suprir com folga a demanda estadual. "Ao contrário do que costuma ser dito, temos mais ativos do que passivos."
NOVAS PRÁTICAS
O ambientalista Laurent Micol, coordenador-executivo da ONG ICV (Instituto Centro de Vida), disse que avalia a proposta apenas como "uma intenção positiva".
"Na prática, o mercado de serviços ambientais ainda não existe. Não há compradores em grande escala e falta definir a regulamentação sobre o que pode e o que não pode ser contabilizado."
(Por Rodrigo Vargas, Folha de São Paulo, 11/08/2010)