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rio tietê
2010-08-11

O rio Tietê está intimamente ligado à história de São Paulo. Suas margens serviram como via de acesso para jesuítas e bandeirantes entre os séculos 16 e 18. Com o surgimento das cidades, o rio – que nasce na Serra do Mar, dentro dos limites do município de Salesópolis e percorre cerca de 1.150 quilômetros até desaguar no rio Paraná, na divisa com o Mato Grosso do Sul – passou a sofrer fortemente o impacto da ocupação humana.

Atualmente, apesar de se manter relativamente preservado até o município de Mogi das Cruzes (SP), em uma área conhecida como alto Tietê (que vai da nascente até mais ou menos os limites do município de Sorocaba), o rio apresenta cerca de 40% de seu volume total formado por esgoto industrial e residencial, com índice zero de oxigênio.

Mas uma combinação de ações governamentais e de empresas – com a participação ativa de pesquisadores – tem possibilitando repovoar espécies de peixes e recuperar áreas degradadas.

Com o objetivo de registrar a diversidade de peixes dos rios das cabeceiras do alto Tietê e do rio Itatinga, localizado no Parque das Neblinas, entre os municípios paulistas de Mogi das Cruzes e Bertioga, pesquisadores da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) lançarão em breve o livro Peixes das cabeceiras do rio Tietê e Parque das Neblinas.

A obra é resultado de pesquisas e atividades de conservação realizadas por Alexandre Pires Marceniuk e Alexandre Wagner Silva Hilsdorf, professores da UMC, em parceria com empresas e órgãos estaduais, junto às regiões de cabeceiras.

O livro recebeu apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações. Teve também apoio da Suzano Papel e Celulose, da Fundação de Amparo ao Ensino e Pesquisa (Faep) e do Departamento de Águas e Energia Elétrica, órgão gestor dos recursos hídricos do Estado de São Paulo.

Segundo Hilsdorf, responsável pelo Laboratório de Genética de Organismos Aquáticos e Aquicultura da UMC, o livro foi concebido para um público não familiarizado com regras e nomenclatura zoológicas e com termos específicos utilizados na identificação das espécies.

“Pensamos em organizá-los de forma didática para que o livro atingisse um público maior, de forma que alunos do ensino fundamental e médio e professores possam usá-lo em trabalhos de educação ambiental sobre a região, além de despertar uma consciência ecológica para as futuras gerações”, disse à Agência FAPESP.

A obra abriga também informações mais especializadas, traz definição e caracterização histórica da área, aspectos gerais sobre a ictiofauna (conjunto das espécies de peixes de uma região biogeográfica), imagens de suas paisagens, além da descrição morfológica, anatômica e funcional básica das espécies.

“Incluímos também aspectos de sistemática, com categorias taxonômicas como ordem, família e subfamília, mais nomes populares, dados sobre distribuição, ecologia e habitat, estado de conservação e comentários”, disse Hilsdorf.

A publicação reúne 53 espécies de peixes, encontradas nas cabeceiras do Tietê e no Parque das Neblinas, em uma reserva de 2.800 hectares gerenciada pelo Instituto Ecofuturo. “Não fizemos um inventário completo em todos os rios da cabeceira. O livro traz o que coletamos em um primeiro momento nessas regiões e no parque”, ressaltou.

Foram 17 áreas de coletas, compreendidas entre rios e represas. A região de cabeceiras ocupa uma área de 1.889 km² entre a nascente do Tietê e Itaquaquecetuba, incluindo os municípios de Biritiba-Mirim, Ferraz de Vasconcelos, Guararema, Itaquaquecetuba, Mogi das Cruzes, Poá, Salesópolis e Suzano. Os principais afluentes do Tietê, que formam a bacia de cabeceiras, são os rios Claro, Paraitinga, Biritiba-Mirim, Jundiaí e Taiaçupeba-Mirim.

“As regiões de cabeceiras são habitadas principalmente por espécies de pequeno porte, com menos de 15 centímeros de comprimento e bastante dependentes da vegetação ciliar para alimentação, abrigo e reprodução. Essas espécies geralmente são caracterizadas por alto grau de endemismo e distribuição geográfica restrita”, explicou Hilsdorf.

Novas espécies
Espécies de carás, lambaris, bagres, traíras, tabaranas, tilápia, entre outras, por serem muito dependentes do material orgânico originário da vegetação encontrada nas margens dos rios, estão fortemente ameaçadas. A eliminação de matas ciliares e o uso excessivo de fertilizantes e praguicidas nas atividades agrícolas têm contribuído para as mudanças e degradação no ambiente natural, indicam os autores.

“O conhecimento da diversidade, evolução e biologia das espécies de peixes das cabeceiras é um dos maiores desafios da ictiologia brasileira no início deste século”, ressaltou Hilsdorf.

Ao fazer a comparação taxonômica e morfológica das espécies, os pesquisadores estimam que quatro delas sejam novas. “Estamos em fase de descrição dessas espécies e vamos submeter artigos para publicação”, disse.

Grande parte das espécies não tem valor comercial, com exceção da tabarana (parente do dourado), da traíra e da tilápia. “A comunidade de pescadores vive da pesca, principalmente nos reservatórios. Eles nos ajudaram muito durante o processo de captura e estamos coordenando trabalhos para a criação de uma cooperativa”, disse.

Segundo o professor da UMC, parte dos livros será doada a bibliotecas de escolas da região. “Queremos convidar professores de ciência e alunos para fazer o lançamento, que será acompanhado de palestras sobre conservação do rio Tietê”, disse.

    * Título: Peixes das cabeceiras do rio Tietê e Parque das Neblinas
      Autores: Alexandre Pires Marceniuk e Alexandre Wagner Silva Hilsdorf
      Editora: Canal 6
      Páginas: 158
      Mais informações: wagner@umc.br

(Por Alex Sander Alcântara, Agência FAPESP, 11/8/2010)


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