Para alcançar suas metas de redução de emissões e de consumo de energia, o país determinou que companhias de aço, carvão, cimento, alumínio, vidro e outros materiais fechem até setembro suas instalações que estiverem obsoletas
O governo chinês administrar o país na base de decretos não é novidade para ninguém. Mas usar esse poder para a adoção de medidas sustentáveis é algo realmente inusitado.
E foi assim mesmo, na base da canetada e da ameaça de corte de subsídios, empréstimos e de licenças de uso de terras, que o governo deu até setembro para que 2087 empresas fechem suas instalações que estiverem fora dos critérios mínimos de consumo de eletricidade e de emissões de gases do efeito estufa.
As metas chinesas prometidas internacionalmente envolvem reduzir a intensidade energética em 20% e cortar as emissões por unidade do PIB em 45% até 2020 com relação aos níveis de 2005.
“Acelerar a eliminação de instalações obsoletas é fundamental para alterar o padrão de crescimento econômico, reestruturar a economia e aumentar a eficiência e a qualidade de nosso desenvolvimento”, afirma uma declaração do Ministério da Indústria e Tecnologia da Informação.
O uso da energia por unidade do PIB cresceu 0,09% nos primeiros meses desse ano com relação a 2009. É o primeiro aumento desde 2006. Antes disso, essa taxa havia conseguido uma redução contínua de 14,4%.
A Agência Internacional de Energia anunciou recentemente que a China ultrapassou os Estados Unidos no ano passado e se tornou o maior consumidor de eletricidade do planeta. O governo chinês ainda não reconhece esse dado.
Anos de crescimento desordenado
A rápida industrialização chinesa, que transformou o país em uma potência mundial, teve altos custos para o meio ambiente e a sociedade. Na busca de atender a demanda de uma população gigantesca que começou a ter poder de compra, as indústrias nunca primaram pelos critérios mais rígidos de uso de recursos e tratamento de efluentes. Por isso hoje a China é a terceira maior economia do mundo, mas também possui as cidades com as piores condições de poluição do ar e da água.
A idéia do governo agora é ir “limpando” os setores industriais, ao se livrar o mais rápido possível daquelas fábricas que não se encaixam nos requisitos mínimos de qualidade e eficiência. Mas isso terá um custo.
A medida irá reduzir em 100 milhões de toneladas a produção de cimento e em 35 milhões de toneladas a de ferro. Isso equivale a uma queda de 5% no total que o país produz atualmente dos dois recursos.
Gigantes mundiais como a Aluminum Corp. of China Ltd, conhecida como Chalco, e o Hebei Iron & Steel Group serão afetadas. A maior parte das empresas ainda não se manifestou sobre a decisão do governo.
Porém a Chalco afirmou que não apenas vai cumprir a ordem como vai ir além e fechar instalações obsoletas por vontade própria. A companhia deve reduzir sua produção em 120 mil toneladas métricas, o equivalente a 3% de sua capacidade em 2009.
“Este é o alerta mais forte que o governo já deu para as empresas. Pela primeira vez esse tipo de medida, já mencionada diversas vezes, realmente irá sair do papel e temos inclusive os detalhes das instalações que devem ser fechadas”, afirmou Zhou Xizeng, analista do Citic Securities Co para a Bloomberg.
No começo deste ano, A China já havia estabelecido novos padrões ambientais para produtores de aço e removido subsídios para o consumo de eletricidade de setores onde antes esse tipo de ajuda era considerada estratégica, como na mineração.
(Por Fabiano Ávila, CarbonoBrasil, 10/08/2010)