O maior desafio ambiental para o Brasil atualmente é controlar o desmatamento no país. Essa é a opinião do economista britânico Nicholas Stern, professor da London School of Economics, especialista em mudanças climáticas.
“O Brasil é hoje peça fundamental em todas as discussões globais e, em especial, nas relacionadas ao aquecimento global. As florestas brasileiras são essenciais para o clima mundial e para a quantidade de carbono emitida no mundo”.
Os números apresentados pelo ex-economista-chefe do Banco Mundial, autor do relatório Stern, que revelou os impactos econômicos do contínuo aumento da temperatura na economia mundial, são alarmantes. “Se os países continuarem a emitir a quantidade atual de gases de efeito estufa, existe possibilidade de 50% da temperatura global subir 5 graus Celsius até o final do século. O planeta Terra não registra essa temperatura média há 30 milhões de anos. As consequências serão diversas, com a geografia sendo reescrita, e centenas de pessoas precisando mudar de casas ”, diz Nicholas Stern. O desmatamento das florestas brasileiras é hoje o principal responsável pelas emissões do país.
Especialistas calculam que para evitar um aumento significativo na temperatura na Terra, será preciso reduzir as emissões de 48 bilhões de toneladas de gases do efeito estufa por ano para 35 bilhões em vinte anos e 20 bilhões em quarenta anos, o que significa uma redução de emissão per capita de sete toneladas atualmente para duas em 2050.
Stern considera o desafio de equilibrar desenvolvimento com aquecimento global um dos maiores deste século. “Se falharmos em um deles, falharemos nos dois e nos países em desenvolvimento, o desafio da sustentabilidade é ainda maior”, diz.
Para ele, o problema é encarar a sustentabilidade como um custo, quando na realidade ela pode ser uma oportunidade. “Nas próximas duas ou três décadas passaremos por uma das mais excitantes revoluções da humanidade, talvez a mais dinâmica e criativa de todas, rumo à economia de baixo carbono. Enfrentamos grandes riscos, mas também enormes oportunidades”, afirma.
Como exemplo de países que estão no rumo certo ao terem estabelecido uma política de baixo carbono estão, para o economista, Dinamarca, Suécia, Portugal e Japão, enquanto os maus exemplos ficam por conta de Austrália, Estados Unidos e Europa.
No aspecto energético, Stern elogia o Brasil. “O país é exemplo com sua política energética de baixo carbono”, diz ao lembrar a matriz enérgica limpa e inovações nacionais como o etanol e o biocombustível.
Acordo global
A dificuldade em firmar um acordo mundial a respeito da redução das emissões de gases do efeito estufa não está em nenhum critério técnico, segundo o economista britânico. “Nós sabemos o que fazer, quais são nossas metas para deter o aumento da temperatura no mundo e quais são os meios de alcançar essas metas, o que está faltando é vontade política”, afirma Stern. De acordo com o acadêmico, o grande obstáculo é mostrar aos líderes mundiais que “há grandes oportunidades em fazer as coisas de maneira diferente”. Para ele, a melhor maneira de fazer isso é esclarecer a população.
“Se isso ocorrer, acho que em Cancun [na COP 16, próxima conferência do clima a ser realizada este ano] podemos conseguir um acordo como o de Copenhague, um acordo político, porém um pouco mais específico. E na COP 17, em 2011, em Durban, na África do Sul teremos a chance de algo mais concreto”, afirma Stern.
(Por Elisa Campos, Epoca Negocios, 10/08/2010)