As enchentes no Paquistão e a onda de calor na Rússia combinam com previsões de extremos climáticos causados pelo aquecimento global, ainda que seja impossível culpar a humanidade por eventos específicos, dizem especialistas.
Este ano caminha para ser o mais quente desde o início das medições confiáveis, em meados do século 19, principalmente por causa de acúmulo de gases-estufa de combustíveis fósseis, segundo a Organização Mundial Meteorológica da ONU (WMO).
"Sempre haverá extremos climáticos. Mas parece que a mudança climática está exacerbando a intensidade desses extremos", disse Omar Baddour, chefe de aplicação de dados climáticos na WMO, agregando que é "muito cedo" para apontar a culpa humana por trás de cada evento.
Segundo ele, uma causa possível para as chuvas na Ásia é que sejam um efeito colateral do La Niña, fenômeno de esfriamento natural da região do Pacífico.
A resseguradora Munich Re disse que seu banco de dados de catástrofes naturais indica que "o número de eventos climáticos extremos como tempestades de vento e enchentes triplicou desde 1980, e espera-se que a tendência persista".
Entre os extremos recentes estão deslizamentos na China e picos recordes de calor da Finlândia ao Kuait -provas de mudança climática no momento em que estão paradas as negociações da ONU por um novo tratado global de cortes em emissões de gases-estufa.
Um estudo concluiu que o aquecimento global dobrou as chances de ondas de calor como a do verão europeu de 2003, quando 35 mil pessoas morreram. Temperaturas tão altas não poderiam ser explicadas por variações naturais.
Já Henning Rodhe, professor emérito de meteorologia climática na Universidade de Estocolmo, diz que "o aquecimento pode trazer mais eventos [climáticos extremos]" como o calor na Rússia, mas não se pode concluir que isso é causado pelo aquecimento global".
(Folha de São Paulo, 10/08/2010)