A partir da próxima segunda-feira (9), indígenas, comunidades tradicionais, ribeirinhos e demais afetados pelas grandes obras na Amazônia, em especial pela Hidrelétrica de Belo Monte, estarão reunidos na Orla do cais do Porto de Altamira, no Pará, região Norte do Brasil, para discutir e esclarecer os reais impactos destes projetos. Trata-se de Acampamento Terra Livre Regional que seguirá até a próxima quinta-feira.
"Esperamos uma média de 500 indígenas e de 200 não indígenas, assim como representantes do Ministério Público e da Funai para trabalharmos em grupo e discutirmos os danos ambientais e culturais que os grandes empreendimentos vão trazer para as populações do Xingu, principalmente para os povos indígenas. O principal será esclarecer o que vai acontecer com o rio, com as pessoas e com meio ambiente, pois muitos indígenas ainda não sabem", esclareceu Marcos Apurinã, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab).
O Acampamento Terra Livre Regional está embasado em quatro eixos temáticos, sendo eles: grandes empreendimentos (hidrelétrica de Belo Monte, hidrelétrica no rio Madeira, Estreito do Tocantins e Maranhão, Transamazônica); luta do Movimento Indígena; luta do Movimento Popular; e terras indígenas (demarcação, atividades que impactam a cultura dos povos indígenas, desmatamento).
O evento será um espaço aberto para que os participantes opinem, conheçam os verdadeiros impactos dos grandes projetos na Amazônia, reivindiquem e tomem conhecimento de seus direitos, entre eles o da consulta prévia, livre e informada. A falta de informação será um dos principais males combatidos durante o acampamento.
Segundo Marcos Apurinã, o desconhecimento sobre a realidade de projetos como Belo Monte estão dando abertura para que muitas lideranças sejam cooptadas por empresas e pelo próprio governo para se posicionarem a favor das obras. Para Marcos, a falta de informação e de esclarecimentos é hoje um dos principais problemas que enfraquecem a luta contra a construção da hidrelétrica no rio Xingu.
"Muitos indígenas estão revoltados e cansados de lutar, outros estão sendo cooptados pelo governo e empresas interessadas nas obras, que levam cestas básicas para as comunidades, mas não levam esclarecimentos sobre o que as obras vão causar. Por que o Brasil aprovou a Convenção 169 da OIT e a Declaração da ONU dos Direitos dos Povos Indígenas se não está cumprindo?" questiona.
Todas as reivindicações e propostas dos participantes do ‘Acampamento Em Defesa do Xingu: Contra Belo Monte!’ estarão contidas em um documento final, que será construído a várias mãos, no último dia do evento. O documento seguirá para o Acampamento Terra Livre Nacional, que acontecerá em Campo Grande (MS), de 16 a 20 deste mês e será unido ao documento final deste evento, para serem enviados ao Governo Federal.
De acordo com Marcos, o documento também será levado para os presidenciáveis, para a realização de um debate que paute a temática debatida no acampamento.O evento será encerrado com a realização de um ato público pelas ruas de Altamira.
"Acreditamos sim que o curso da história de Belo Monte ainda pode ser mudado. É uma obra inviável, os estudos estão aí para mostrar. As próprias empresas estão com receio de começar. Vamos fazer o que for preciso e não vamos aceitar esta hidrelétrica. Nós também queremos o desenvolvimento, mas não a qualquer custo. Sabemos que o Governo pode implantar outro modelo, um que não mate e nem prejudique ninguém", encerrou o coordenador da Coiab.
(Por Natasha Pitts, Adital, 07/08/2010)